04) - A Namorada.
Inspiração,
romantismo, inocência, sonho livre quem não teve? Nessa semana ao ouvir uma
Canção de Charles Aznavour onde ele canta um verso: “Quand J’avais vingt ans”
me levou a pelo menos pensar “Quand J’avais size ans!” Pois busquei esse meu conto:
Tudo aconteceu na
doce era de meus dezesseis anos recém feitos. Fui muito tímido. Abordar uma menina
para namorar era um tremendo desafio. Exigia uma coragem Hercúlea! No entanto
para abordar visando namoro a tática era desenvolvida ao dançar. Então nos
bailes e reuniões dançantes que promovíamos era o momento. Tornava-se viável,
mas ainda difícil. A viabilidade se propiciava, pois, a cábula se ocultava ao falar
ao pé do ouvido, com o delicioso rosto colado sem olhos nos olhos. Mais, um
adicional de coragem
adquirida após uma, ou mais de uma “Cuba Libre”. Meio tonto,
subia à cabeça uma boa dose de autoconfiança e a timidez ia pelo ralo.... Não devia
exagerar, uma dose mais forte de rum com Coca-Cola, podia se converter em
arrogância, comum nos bêbados.

Figura da Internet

Nessa época
conheci uma “guria” de cidade vizinha, que passava suas férias escolares em
Jaguari e o encantamento foi imediato, espontâneo, arrebatador! Num sábado fui
a uma reunião dançante na praia e lá estava ela! Linda, cabelos e olhos claros,
sorriso meigo e um “tímido olhar morno”! Tomei aquele trago infalível e fui
dançar. Fiquei dançando por mais de duas horas ininterruptas! Ainda tímido,
apesar do estímulo etílico, permaneci quase todo tempo calado. Silêncio
sepulcral. Com “ozóios” fechados, me inebriei de deliciosa paixão adolescente! Dançando
lentamente nada falei das minhas intenções de namorar e como eu queria!
Hoje em dia é tudo mais fácil - me parece - o ficar simplificou tudo. Na época, era namorar mesmo. O apelo era mais forte, comprometedor e a chance de ouvir um não coexistia de fato! Que horror! Que maravilha!
Mantive-me
tradicionalmente calado até que a reunião acabou e ela se despediu, sem ouvir
minha declaração que pulsava no num coração sincero.
Agora vem a parte mais difícil. Eu precisava declarar que queria namorá-la e deixei escapar o momento oportuno. Como fui idiota. Precisava criar um novo encontro para declarar meu desejo. Pior, naqueles noventa dias, cumpria ritualística de luto pela minha avó. Tinha participado daquela reunião dançante na praia de “forma irregular”... Participar de um baile ou festa era vetado pela Família. Luto, eis o impasse.
Como disse, ela
morava em cidade vizinha e tinha um período curto das férias de verão na minha
cidade, havia prazo, não podia perder tempo, tinha que agir.
Num domingo à
noite vi a saída e tomei a decisão: Será hoje no cinema. Lá fui eu: Cine Teatro
Ideal

Cine Teatro Ideal - Jaguari/RS
e o filme vai começar. Bem, não precisa ser agora na entrada. Tem muita
gente ao redor, estão todos olhando o que estou fazendo, ou ainda farei nos
próximos cem anos. Que droga de gente bisbilhoteira. Quando então? Durante o
filme ora, no escuro. Resolvido! Oba, ela deixou um lugar vago ao seu lado, ou
foi acidental? Dúvida cruel. Ao sentar naquela poltrona, ela pode resistir ou
nem mesmo me dar assunto! Seria um vexame horroroso! Melhor então ao terminar o
filme, já que para cada um ir para suas casas, o itinerário coincide por três
quarteirões.

Terminou o filme
e eu nem me dei conta que tinha começado. Meu Deus como é difícil! É agora, TEM
que ser agora. Sai alguns passos à sua frente. Ela acompanhada de uma amiga
conversando, rindo e feliz! O tempo encurtando. Que angústia. Felizmente lembrei
que sobriedade é inimiga da audácia, sóbrio as coisas são mais difíceis ainda. O
tempo passando tenho que agir rápido, incrível mas falta apenas meio quarteirão
e a oportunidade se vai. Nova tática veio à minha mente criativa, quase genial:
Tenho ainda 30 metros e vou me embriagar. Resolvido: Acendi um cigarro - na
época sem filtro - e sabia que dando uma
série de fortes tragadas, ficaria tonto, embriagado!
Bingo. Foi o que
fiz. Não deu outra! Fiquei tonto, melhor, muito tonto cambaleando, quase caindo.
Só não cai porque continuei caminhando apoiado na parede das casas e naquela
posição ridícula continuei caminhando, lixando a parede com o ombro e a perna
fazendo poeira até chegar à mudança de nossos rumos sem uma palavra proferida! Roupa
suja da tinta das paredes, sem cumprimento do objetivo da tão desafiadora
missão: Falar com a ela! Que desastre, o pileque de cigarro (pior de todos) era tamanho que não
sairia palavra conectada com nada. Nada
resolvido, concretização de namoro
adiada! Como é difícil ser adolescente!
POA 28/maio/2020.
Posso imaginar a cena kkkk. Gostei dos "ozoios", parece que estou vendo vc falar. Vc está se revelando um grande escritor sua veia cômica é excelente.
ResponderExcluirEra a verdade de quase todos,professor.
ResponderExcluirKkkkk! Éra bem assim! Perfeito!
ResponderExcluirGata com essas características só poderia ser de Santuago
ResponderExcluirQuase que tu acertas... Mas não era de Santiago! Por favor, nos próximos contos quero contar com teus comentários, entretanto, é importante assinares, para eu ter escrito sua origem
ExcluirAdorei!! Mas fiquei com pena do meu priminho.... tão tímido.....bjo
ResponderExcluirFui muito tímido, até meus 20 anos, depois "estragou tudo"! Hehehehe...
ExcluirOi meu amigo. Bela história, recordei minha juventude. Era exatamente assim. Abraço Paulo Coimbra
ResponderExcluirAdorei essa história kkkkkkk
ResponderExcluircomo tudo é tão intenso nesta fase.....
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