29) Afogamento I.
Não me canso de
repetir o quão importante em nossas vidas foi o Rio Jaguari na nossa Cidade Natal. No verão, nas
horas de folga eu estava lá, nadando, mergulhando e quando o rio estava mais
cheio, trepando em árvores para saltar. Trepando no bom sentido, do “verbo subir”,
sem nenhuma conotação libidinosa!
De tantas coisas
que se fazia, Kolvinko e eu treinávamos insistentemente o salvamento de
afogados. O rio era relativamente calmo, mas reservava algumas surpresinhas que tristemente levou algumas vidas, inclusive de amigos nossos!
Kolvinko e eu
tínhamos algumas técnicas eficientes – criadas exclusivamente por nós dois - que nos permitiam sair de algumas armadilhas
que a vítima impõe, quando em salvamento/pânico, como as de se agarrar
desesperadamente e levar seu salva-vidas junto ao afogamento. Uma das técnicas “cientificamente
desenvolvidas” pela dupla, é a de tontear a vítima com uma pancada suave na
cabeça! As vezes nem tão suave. Dessa forma com o corpo relaxado, a vítima torna menos difícil de nadar
com um único braço, pois com o outro, segura-se o corpo por trás, por debaixo de seus braços.
Não é nada fácil, mas com bom treinamento se consegue e dá ao “salva-vidas” uma
adrenalina fulgurante, salvar alguém gera uma indescritível alegria!

Numa tarde de
domingo estávamos na ilha e vimos dois “estrangeiros” de Santiago que ao
descer a cachoeira se depararam com o “poço”, já conhecido pelas frequentes
surpresas aos incautos e começaram a se debater com um deles pedindo socorro. Em disparadas lá
fomos nós ao salvamento. Próximo dos dois o Cauby, ou melhor, o Kolvinko pegou por trás o que estava
pior e eu peguei o outro, que para me dificultar, estava de frente para mim e gritava
desesperado palavras incompreensíveis e tentando me agarrar. Não tive a menor dúvida: Assentei-lhe um murro na testa que ele ficou estrábico. Voltei na tentativa de
resgatá-lo, novamente tentou me pegar, pois não estava suficientemente tonto. Pensei, "será que vou ter que buscar uma caipirinha para esse desgraçado tontear?"

Novamente, prendi-lhe outro soco na testa com mais força, mas o rapaz, era forte e não deu sinal de tontura, até ficou com cara de brabo, sem vacilar,
retomei o fôlego, renovei com mais força e meti-lhe com toda, mais uns dois
ou três socos. Eu cansado já não acertava mais a testa, era pelo meio da cara mesmo!
Então ele meio nocauteado se entregou e eu tomei-o por trás e heroicamente o
reboquei até a ilha para os cuidados finais, agradecimentos, aplausos, ovação do o
público que assistia com um sonoro, viva o Kolvinko e viva ao Fausto, etc. Afinal
era disso que vivíamos aqueles raros dias!
Óbvio que nada disso ocorria. O
máximo que ouvíamos de alguns que assistiam era:
- Deviam ter deixado morrer, para apreender a
respeitar o rio!
Quando a “minha
vítima” se recobrou, olhou para mim com a cara inchada e olhar de cachorro que
tinha apanhado e sinais claros de ódio, sentenciou:
- Pô, eu sei nadar cara! Eu tava salvando meu amigo e
gritei que não precisava de ajuda! Olha o que tu fez comigo cara, qualé? Tu tá lôco tchê?! Te deixei me socorrer prá tu parar com aquilo!
Bom. Entendi e não reclamo a falta de agradecimento do rapaz. Ele tinha lá algumas razões para não ter
simpatizado muito comigo, fui apenas mais um salva-vidas mal compreendido!
Boa história, por isso um cego nunca pode parar perto de um faixa de segurança!
ResponderExcluirHahahahaha,esse salva-vidas sempre foi faixa preta,pobre vítima.
ResponderExcluirLembro bem dos estrangeiros de Santiago q não eram benvindos ali... Mas vcs foram muito valentões. Grande Rio Jaguari! 😍
ResponderExcluirKkkkkkkk essa foi boa!!! Lembro muito dos meus primos „heróis“ ah e claro dos estrangeiros de Santiago! Bons tempos!!
ResponderExcluirKkķkkk imagino o desespero do cara sendo espancado sem saber o motivo. Foi um ato corajoso de vcs dois.
ResponderExcluirLembro muito bem dessa época!! Vcs eram os salvas vidas da nossa praia! Saiam como Heróis!
ResponderExcluirObrigado pela "solidariedade", pena que não assinaste o comentário para eu saber quem és...
ExcluirMaravilhoso
ResponderExcluirNas minhas tentativas de enaltecer as lembranças de passagens vividas pelo interior do RGS. Disse ser lembranças marcantes como as relatado pelo Fausto
ResponderExcluirBons tempos Fausto, o mais importante é que cumpriste a missão salvando mais uma vida mesmo nestas circunstâncias.abs
ResponderExcluirFausto, tem que aprender a entender a linguagem dos amigos dos afogados. kkkkkk
ResponderExcluirCumpriste a missão de salvar vidas.
ResponderExcluirSeria uma mistura de gratidão com raiva este salvamento kkk Mas rendeu uma boa história!
ResponderExcluirPortanto, nem tudo o que parece,é. Outra conseqüência: quando a gente for nadar em terras alheias podem não nos entender e...pau!
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