60) Um Susto em Washington!Sei que o
título torna previsível o desfecho da crônica de hoje, verdadeira e vivida por mim.
No ano de
2001 estive associado ao meu amigo Rugg, representando
comercialmente uma Organização Americana que produzia produtos, instrumentos
para Angioplastia como stents, balões, cateteres, enfim. Dado a aproximação
profissional com Médicos Hemodinamicistas viajamos a Washington no início de
setembro de 2001 para acompanhamento de alguns deles no TCT, que ocorre uma vez
ao ano. Já estive nos EUA por quase vinte vezes e “seria” a primeira envolvendo
trabalho. É, sou folgado
mesmo, gosto de passear, uma barbaridade... Como o Congresso duraria quatro
dias, programamos esticar por mais cinco, à título de passeio! No final das contas, o período inteiro virou passeio...
Lá, já
hospedados desde dia anterior e algumas horas antes dos compromissos oficiais de abertura numa
bela manhã de outono, céu azul, temperatura agradável, Rugg – que dividia apartamento
comigo - levantou disposto a uma
caminhada a aproveitar as últimas horas de folga. Ao redor muito arborizado do
nosso hotel, era cenário perfeito! Renunciei. Faria mais tarde, mais curto! Ainda
me recuperava do acidente no paraquedismo.
Ao dar meu
passeio, um susto, um estouro monumental! Daqueles que vibram até o
estômago. Curiosamente me lembrei na hora, que uma semana antes, com a intenção de compensar minha
esposa dos nove dias da minha folga, passamos um final de semana em
Canela e ao sair daquela Cidade Serrana, também ouvimos uma forte explosão. Era de um
transformador, há uns cem metros de onde tínhamos passado, que explodiu, paralisando toda movimentação na rua.
Em Washington um imediato pensamento: “Até para explodir um transformador, os americanos
fazem mais barulho”! Meia hora mais tarde, voltando ao hotel encontrei no corredor com Dr. Eddie, que pálido, me perguntou se sabia o que tinha acontecido há menos de
dois quilômetros do nosso hotel!
O “Tenebroso 11
de setembro de 2001” tinha acontecido, e eu estava lá! O “Estouro
Monumental” era do Pentágono e o resto da história todo o mundo conhece!
Subitamente o
Mundo mudou! Ainda consegui telefonar para Elaine e dizer que estava bem e que
era para ligar a TV, para entender um pouco do que estava acontecendo e os desdobramentos futuros. Minutos
depois o Governo Americano desligou totalmente qualquer rede de comunicação. Ligação
telefônica bloqueada para o resto do PLANETA.
No meio da
tarde, Congresso cancelado, nada mais tínhamos a fazer, foi então que Rugg se deu conta de que teríamos que providenciar em comer alguma coisa, pois a
tendência era de fechar tudo e tudo foi fechado. O alarme de não termos onde almoçar, foi tardio. A cidade ficou subitamente
deserta, tudo fechado. Em cada esquina, um pesado veículo militar com seus
soldados com a caras pintadas. Era um clima de guerra verdadeiro acontecendo na nossa cara,
justo no País defensivamente mais bem armado do Mundo que fora atingido de forma moralmente
fulminante!
Caminhávamos,
nós três, como se estivéssemos transitando no solo da lua. Subitamente vimos à
distância uma carrocinha de cachorro quente! Nosso almoço está salvo. Nunca mais comi um hot-dog tão
bom! Não tenho certeza se cheguei a mastigar! Pedi o segundo. Negado, a
carrocinha encerrou atividades e se mandou...
Mais tarde
nos reunimos novamente num único quarto para decidir “os destinos de nossas
vidas” tão ameaçados! A primeira constatação foi a de que já era tarde e a fome voltou. Não tínhamos jantar disponível. Tentaremos alguma
pizzaria ou similar lá fora, porque a fome de quem comeu um único cachorro quente há pelo menos umas cinco horas, voltara inapelavelmente!
Caminhando, felizmente achamos um boteco que atendia para comer fora dali. O cheiro maravilhoso denunciou: Vamos comer bem! Tinha pizzas em fatias e frango frito.
O parceiro paulista - Rugg – pediu pizza, é claro! Eu pedi um prato, “wings” de doze peças e levamos para o hotel. Chegamos no quarto para o jantar, abri minha embalagem com uma dúzia de “meio
de asa” à milanesa cujo cheiro despertou curiosidade “nos outros” e cada um
deles experimentou com uma singela pecinha e nada mais. Comi as dez com
recorrente arrependimento pela quantidade muito inferior ao apetite! Fui obrigado a dormir num misto de fome com vontade de comer!
Os dias
corriam e as companhias aéreas impedidas de decolar. O Mundo assistia multidões
amontoadas nos aeroportos a dormir sobre suas bagagens, sem perspectivas de
voltar para casa. Na TV só se assistia choradeiras de gente querendo voltar para casa! Nos mantivemos hospedados na Capital Americana por mais
alguns dias, como viajávamos pela American Aerolines e essa, garantiu que em
breve viajaria, graças a preferência às "empresas nacionais", é claro... Quem viajava de Varig etc., condenado a longa e inapelável espera.
Veio a
primeira oportunidade: Voo até Miami! Topamos, pois na Flórida nos sentiríamos mais
perto de casa, e fomos! Primeira
noite em Miami, agora somente eu e Rugg, não nos sentimos confortável em sair
do hotel, já que chegamos tarde da noite. Apenas para variar: Eu com fome! Rugg
sugere:
- Alemão, pega aquele cardápio e vamos
ver o que tem para entrega no apartamento!
Eis que para nossa felicidade, tinha a tal de “wings”! Serão saciados todos desejos acumulados pelo jantar em Washington! Que felicidade!
- Vou MATAR o meu desejo. Naquele outro
dia, as dez que comi não me satisfizeram nem um pouco! Fiquei com desejo de
grávida para comer doze, ou mais...
- E eu, comi uma miserável asinha
que vc me deu...
Tinha ficado
um dolorido ressentimento entre nós. Por ele, que eu fui “mão de vaca” e de
minha parte de que “aqueles dois” mesmo com suas pizzas, tinham reduzido
cruelmente em 20% do meu sagrado jantar! O desentendimento daquele momento
ficou nisso. Não houve ofensa verbal e tampouco agressão física, ou “vias de
fato” como dizem nas delegacias de polícia, nem troca de tiros, pois saciaríamos em algum tempo, o desejo contido de comer asas de galinha frita, à milanesa!
É óbvio que
ficamos nessas amenidades, porque o cardápio em nossas mãos proporcionou isso:
- Vamos pedir QUATRO dúzias para comermos
à vontade!
Para mim
foram as melhores palavras que ouvi do Rugg em todos aqueles dias de viagem!
- Concordo em gênero, número e grau: Quatro dúzias!
Rimos felizes,
saquei o telefone e mandei ver! Foram longos minutos de espera. Pareciam horas, agora aguardadas por duas grávidas com desejo enlouquecido pela perspectiva
de devorar aquele saboroso quitute!
Finalmente
tocou a campainha. Atendi. Um jovem alto grande, parecia um halterofilista pela
cara que fazia ao esforço de transportar em cada uma das mãos, uma enorme
bandeja de seus 80x30cm transbordando de tanta asa de galinha. Na
verdade, supus que nem eram asas de galinha, asas de peru pelo tamanho e para aumentar ainda mais o volume, não se tratavam de “meio da asa” como em Washington. Asa completa, cuja parte chamada de coxinha da asa, trazia junto um
pedaço do peito da ave. Cada coxinha deveria ter próximo de 350 gramas! E. Três daria um quilo!
Bem
fritas, quase secas e o odor de fritura extremamente pesado! Temperadas com alho, condimento que eu detesto! Mesmo faminto,
olhar aquela montanha enorme de fritura, já me deu saciedade parcial. Não
consegui comer além da metade da segunda asinha, na verdade AZÃO! O companheiro
comeu toda a segunda coxinha! E parou.
O que fazer
agora com quarenta e quatro asas que sobraram? Telefonar e devolver para encaminhar
a alguma Entidade Assistencial? Não. Antes, eu não tinha contado, o atendente
me advertiu que para duas pessoas seria exagerado para um jantar! Então sossega e não fala mais nada...
Aborrecido, triste, mais tarde saímos silenciosamente do apartamento, caminhando pelo corredor, abandonamos as bandejas cheias defronte a porta de outros apartamentos. Ficar
com aquela fritura, que tinham impregnado seu cheiro forte nas cortinas, não
daria para dormir! Daqui mais uns vinte anos, volto a comer “wings”!
O impacto – para essa crônica – decorrente ao ataque
terrorista descritos no início, se
tornaram menos relevantes!!!
Que fome,meu caro Fausto.
ResponderExcluirCampeão
ResponderExcluirMeu Deus,levaram um galinheiro pra janta,hehe
ResponderExcluirUau que sufoco estar lá naquele maldito 11 de setembro!! É curioso como a fome aumenta quando não temos onde e o que comer. O olho grande foi maior que a barriga hehehe
ResponderExcluirKkkkkkkkkk, essa história é fantástica!
ResponderExcluirSó você... :-)
ResponderExcluirE eu que sou o come come!
ResponderExcluirFausto!! Que dia para estar lá !! Mas o episódio da comida tá hilário! 🤪🤪🤪
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