quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

87) Meu Primeiro Whisky!

Tenho em mente sem muita precisão, de que o whisky entrou no Brasil – ou pelo menos em Jaguari que para mim não muda nada – no início da década de sessenta. Até então, o “encorajador” para dançar em uso nos bailes, a chamada poção mágica, era a Cuba Libre, conhecida mistura de rum com Coca-Cola ou faltando dinheiro, o Samba, cachaça com Coca-Cola. Esses dois drinques maravilhosos vieram para aos poucos substituírem o Gim com água tônica. Muitos ainda preferiam a cerveja, no entanto, dançar e tomar “uma gelada”, implicava em tantas idas ao banheiro, que tornava a bebida uma parceira chata para bailes! Sem ofensa!

A inexplicável necessidade de uma dose de álcool no cérebro, servia para os tímidos, que era francamente o meu caso nos primeiros bailes, a romper a cábula que construía uma vasta barreira de ser rompida. Pois o moço quando se deslocava em direção ao seu “alvo”, a moça que ele queria dançar se tornava objeto de observação por todo o salão – pelo menos era o que eu pensava – atravessar o salão e “tirar” a moça para dançar havia sempre em mente a hipótese de ser negado, felizmente nunca aconteceu comigo, mas o que passava na mente dizia que isso seria possível e então o vexame seria mortal, daí a necessidade do tal de “encorajador” ou anestesia prévia!

Dançar à minha época, tinha um significado extremamente importante, definitivo até para projeção de vida que poderia rolar a dois! Era ocasião de atar novos relacionamentos, iniciar uma sedução, um namoro e quantos casos acabaram em casamento! Posso enumerar uma longa lista da maravilha que se desencadeava durante uma música romântica, rosto muito próximo ou “colado”, a fala mansa e os anjinhos do amor tilintavam em nossos corações! Como disse, o casamento se alinhavava alegre e gloriosamente!  

Todos nós reconhecemos que uma pitada de álcool nos deixa alegres, mais relaxados, descontraídos, românticos, menos responsável, um pouco atrevidos, brigão e por aí vai...

Então se conclui que dançar com um pouco de álcool, pode elevar esse hábito social às raias da indecência? Hummmm... Pode ser! Enquanto criança, cheguei a ouvir estórias de “uma determinada moça” que engravidou ao dançar! Claro que não houve crédito, se fosse real, o casal merecia o Prêmio Oscar de Fertilidade! Ou da mentira deslavada!

E meu primeiro whisky nem foi em baile. Meu pai anunciou que estava vindo do exterior, “from Scotland”, a moda e a fórmula dessa iguaria alcoólica, muito superior às conhecidas bebidas que existiam por aqui, que se misturavam aos refrigerantes! Algo espetacular, fora da curva, como se diria hoje!

Fabricado em Bento Gonçalves pela “Dreher”, de seu tradicional conhaque e chega ao Mercado com a marca “Whisky Mansion House!” Provavelmente uma maravilha do Século Vinte! Meu pai comprou um litro naquele frasco “barrigudinho”, mesmo de seu famoso conhaque e programou uma noite especial para todos nós provarmos! Antes de conhecer, cheguei a conversar com minha mana, de que eu achava difícil ter uma bebida ser melhor do que Vermute!

Meu velho era um grande conhecedor de música erudita, possuía muitos discos de doze polegadas como obras de Chopin, Bach, Ludwig Beethoven, Franz Liszt, Wofgang Amadeus Mozart dentre tantos, num tempo em que após o jantar ouvíamos algumas obras – hoje substituídas por algumas horas de novelas na TV, infelizmente – e estabeleceu que numa determina noite, todos nós teremos oportunidade de conhecer esse tão esperado néctar dos deuses.

Reunidos Pai, Mãe, minha irmã, meu único irmão que ainda morava por lá e eu. Eu, talvez com uns quatorze anos e pela idade fui agraciado a beber uma quantia equivalente à metade de um dedal! 

Todos com seus copos apropriados a postos, três pedras de gelo cada, servida a dose

merecida. Um brinde e a primeira bicada! Provei e exclamei com toda espontaneidade própria da idade:

- Nossa! Essa coisa tem gosto de iodo com pau podre!

O riso geral e a decepção estampada em todos os rostos. Como meu velho tinha hábito de leitura muito profunda, teve argumento desafiante para defender tal sabor:

- Trata-se de uma bebida alcoólica envelhecida em barris de carvalho por longo tempo, daí a obter esse sabor, que não é de pau podre, como exagera o Fausto, mas um sabor suave de madeira de Lei, o Carvalho!

Que iniciação mais desastrada, mesmo com a brilhane defesa do seu Waldemar! Acreditem, já apostei em marcas de grande nome mundial, sem jamais dar o crédito merecido que meu Pai reivindicava! Também nunca mais tomei Vermute para uma impossível comparação.

Peço aos adoradores do Scotch Whisky, minhas respeitosas desculpas por não o prestigiar, mas garanto que jamais profanarei tal bebida com misturada a refrigerantes! Ao beber será com extrema moderação, adicionando algumas pedras de gelo, talvez uma adição mínima de água de coco e "Saúde"!!!

12 comentários:

  1. Realmente o primeiro gole de whisky não é nada agradável quando somos muito jovens. Dançar de rosto colado era o máximo, bons tempos!

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  2. Tomávamos com bastante gelo para durar.

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  3. Mais uma vez um relato veridico deste nobre e erudito prosador que nos brinda com histórias brilhantes. Eu particularmente sou adepto do whisky caubói, não adiciono gelo para preservar sua essência....

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  4. Depois de ter o paladar bem curtido com samba e vermute, foi uma experiência bem ruim tomar a primeira dose de whisky. Ainda prefiro uma boa cachaça e um bom vinho.

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  5. Sensacional kkk! Que memória Fausto bons tempos aqueles, adoro teus contos! Continuas

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  6. Bons tempos Fausto, lembro de todas estas bebidas, e lembro muito da minha timidez para convidar uma moça para dançar, então se apelava para bebida nos encorajar. Bom demais,viajei no tempo..abs meu conterrâneo e amigo

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  7. Adorei!Hoje dançamos em casa é só tocar uma boa música e fala que eu não posso falar que não me leva para dançar.

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  8. Ricardo Marques da Silva5 de janeiro de 2022 às 17:33

    Dançar foi, é e será sempre um prazer. Com um incentivo ai fica muito mais fácil. Mas ainda bem que neste aspecto da bebida hoje em dia para os iniciantes temos algumas dicas mais suaves como Jack Danieis Original Recipe Tennessee Honey. KKKKKKK

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  9. Ótima história Fausto. Era bem assim no passado.
    Só mudava a querência.

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  10. Bons tempos aqueles de dançar de rosto colado. E vamos combinar... Até hj esse whisky é uma mistura de iodo com pau podre...num eh? Kkkk

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  11. Ahhhh Jaguari ! Era o mundo pra mim também! Adorei a história e lembrar de dançar! Muito bommm
    Whisky deve ter melhores né? 😜

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