quarta-feira, 9 de abril de 2025

198) Para-quedismo: Queda Livre com Chuva?!

Inúmeras vezes amigos, conhecidos, leitores me perguntaram o quão complicado é saltar de para-quedas com chuva! Todos sabem da minha paixão nutrida por esse esporte radical (Escrevi livro, ainda “não publicado”, do acidente em 1999) e foram uns seis anos de intensa prática – acima de trezentos saltos – alguns inclusive, fora do País.

Como todo esporte radical, esse tem a capacidade de nos deixar inebriado pela forte injeção de adrenalina no sistema, que ocorre durante o salto. É tão forte a provocar dependência química. O estado de euforia durante o voo, proporciona um prazer tão intenso, a ponto de provocar ansiedade num final de semana de “abstinência” ao PQD! Hilário, mas muito real!

Já ao amanhecer de um sábado qualquer, ou domingo ensolarado, vê-se o céu azul (blue sky) com poucas nuvens a nos chamar! Daí é irresistível! Juntar o equipamento, pega o carro e se manda cheio de alegria rumo a “Área de Saltos”! No meu caso, cidade de Sapiranga – RS, pouco mais de cinquenta quilômetros de Porto Alegre. Próximo ao aeródromo, ao ouvir o vigoroso ronco do motor de um Cessna subindo, o batimento cardíaco já altera seu ritmo para o acelerado, cuja superação só ocorrerá quando estivermos voando “lá em cima”, aos dez mil pés de altura. Abre a porta da aeronave e o ar gelado invade a cabine ,(dois graus de diferença a cada mil pés de altura!) um forte estresse ao olhar para baixo e “desembarcar”!

 


O choque físico na saída aeronave com o ar, é uma "paulada"! Depois, durante a queda-livre o corpo cai em velocidade superior aos duzentos e cinquenta quilômetros por hora. Toda aquela aceleração do batimento cardíaco na hora de sair da aeronave, diminui consideravelmente. O medo – muito conveniente – da saída é imediatamente substituído por uma sensação prazer indescritível. Desaparece milagrosamente o temido sentimento de “estar caindo”! A sensação nítida é de estar como uma águia voando numa velocidade absurda com inexplicável sensação de segurança. Por segundos, suponho que a alma assume um “endeusamento” único, cheia de coragem, até soberba! Perdoem-me, meus colegas de esporte, mas o para-quedista se torna arrogante através de seu soberano domínio às altíssimas velocidades - sem motor - propiciadas por esse esporte muito louco!

E a chuva? Bom, se a meteorologia não for favorável, avião nem decola. Visualizando a ameaçadora nuvem, apelidada de “cebezão”, flutuando absoluto nos céus, fica quieto no solo, e pronto! Trata-se das escuras e temidas “Cumulus Plumbum”. Respeitadas até por grandes aeronaves. Algumas dessas nuvens possuem energia no seu interior produzindo perigosa eletricidade. Quanto mais distância, melhor!

Algumas vezes acontecem formações inesperada de algumas nuvens, quando já se está no ar em busca da altura ideal para o lançamento. São nuvens a se dissiparem facilmente e passar no seu interior, é como correr na estrada sob forte cerração, nada além isso e garanto, é um “barato extra”!  Nessa situação, se algum colega está próximo, cria-se uma ilusão de ótica, com aquele colega envolto em uma áurea de luz, semelhante ao arco-íris! Simplesmente encantador!  

Pode-se casualmente, ter contato com pequenas rajadas de chuva, e o sentimento – melhor se saltando sem capacete, só de óculos apropriado – é de as gotas baterem no rosto com força extrema, pequenas agulhas, talvez grãos de areia, nada tão agressivo a causar dano físico, apenas curioso, surpreendente aos neófitos!

Então é clara a viabilidade de pegarmos chuva sem problemas de navegação. O prejuízo maior fica por conta de molhar ou de sujar o velame para uma trabalhosa missão de limpar e secar todo o tecido. Afora isso, vamos saltar, porque o prazer de voar – tão desejado por Ícaro, como nos conta a Mitologia Grega – afirmo convicto: 

- “Quem nunca saltou, não imagina o tamanho do prazer e quem já saltou, jamais encontrará palavras suficientes para descreve-lo!”

 

 

15 comentários:

  1. É ótimo saltar!
    O frisson passa quando chega-se à
    Z L. Aí é só tu o salto velame e desfrutar! Ivan

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  2. José Daniel Steimetz10 de abril de 2025 às 08:51

    Grande final. Grande abraço. Se parar, não demore a voltar a escrever. Tens uma forma interessante de escrever. Gosto.

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  3. Boa Faustinho! Que época legal!
    Abraco, Video

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  4. Bela descrição amigo Fausto! Paulo Moreno

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  5. Queria saber a opinião sobre os homem asa. Ao que parece a diferença mais marcante com o paraquedismo é que homem asa não para de cair. E paradoxalmente para sua sobrevivência depende do paraquedas. Como o base jump com seus paraquedas críticos. Mas é interessante ler um comentário sobre os riscos que cercam o homem asa

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  6. Faustinho quermos o livro em breve !

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  7. Suas crônicas sempre impecáveis amigo Fausto. Essa da fobia só em ler. Parabéns abraços Ana Lucia

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  8. Em todas as crônicas q escreveste sempre tive o prazer de viajar contigo mas essa devo te confessar q o frio na barriga não me deu prazer... Kkk
    Aguardo ansiosamente um livro com 200 crônicas..

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  9. Show! Sensacional! Parabéns! Abraços. Bidart

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  10. Curto ! Mas nuca chegarei lá!Tenho pânico de altura!

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  11. Meu amigo, vc é muito corajoso. Fiquei arrepiada só de ler essa crônica. É um esporte que não me atrai, adrenalina demais pro meu gosto. Parabéns pela excelente narrativa!

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  12. Não demore muito a voltar a nos divertir com as suas histórias.

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  13. Incrível, Fausto, esse salto do medo para o
    salto de paraquedas, talvez o medo sirva para fabricar a adrenalina.
    A natureza só poderia ser obra de uma inteligência superior, da qual todos somos parcelas.
    Até breve, caro vizinho Fausto.
    Obrigado por nos entreter!

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  14. Querido Fausto
    Parabéns pela crônica. Sua habilidade em unir a precisão técnica do paraquedismo à poesia das emoções humanas é admirável. As metáforas sobre o salto (físico e existencial), a descrição do momento tenso da queda livre e o paralelo entre o paraquedas (risco vs. segurança) foram brilhantes. O final, extraordinário!
    Gostaria muito de ter vivido essas emoções. Bjs

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  15. Meu amigo Fausto parabéns e muita gratidão por compartilhares as crônicas com nós. O importante é continuares te inspirando. Estamos aguardando o teu 📔 livro.
    Abraços fraternos

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