terça-feira, 30 de abril de 2024

 154) Advertência severa, mas necessária de um Pai Zeloso!

Sempre tive uma severa fiscalização em todos movimentos enquanto criança, pelo meu pai, mas principalmente e em tom bem mais severo por minha mãe. Vivendo numa cidade pequena e com quatro irmãos mais velhos, sobrava para mim um quinto lugar na hierarquia, que significava ser o "neném da Casa", o mais carente de cuidados especiais e até repreensão mais severa, pelo menos assim me parecia ser, sem, entretanto obter concordância dos outros manos.... Último filho/filha, sabe do que estou falando...

Como disse, cidade pequena muito arborizada, com morros de cerrada mata nativa e com razoáveis condições de escalar, é sem dúvidas uma bela e bucólica cidade, a de Jaguari (Do Tupi Guarany, Rio das Onças) com uma atraente praia de rio com areia branca e tantas atrações com locais para as mais diversas travessuras, artes e tantas coisas que mereciam preocupação constante dos pais, sem que eles tivessem autoridade ou tempo suficiente para inibir o livre vai e vem dos mais peraltas. Saltar de árvores ou da ponte no rio em época de enchentes, era a glória!

No ponto mais central da cidade, o Rio Jaguari faz uma curva de 45 graus e tem no centro dessa curva, uma ilha de uns três hectares também muito arborizada com seu “Salso Chorão”, taquaras, e arbustos dos mais diversos! Era esse nosso local ideal para refúgio com milho verde furtado em lavouras das cercanias, a ser assado em fogo de chão para devorar com extremo entusiasmo! Hoje ao ver espigas de milho verde à venda em supermercados, chego salivar e misteriosamente sentir até seu cheiro maravilhoso do milho assado ao ponto e com alguns grãos queimados! Que delícia!

O ponto forte e mais ameaçador e gerador maior de preocupação dos pais, sempre foi esse rio, que mesmo sem ser tão caudaloso, mas que em época de cheias – especialmente na Primavera – se torna muito perigoso, e por óbvio, a aventura mais atraente. Subir nas árvores e pontes para voar “de bico” nos locais mais profundos, era a glória da molecada. Eu junto, é claro e é nisso que concentra minha maior saudade de Jaguari da “minha infância querida!” 

Tristemente essa preocupação nunca foi infundada. Em períodos normais de "meteorologia pacífica", o rio tem águas claras e cristalinas, no entanto em períodos chuvosos, a água fica marrom, agitada com perigosos redemoinhos. Assim, sem visibilidade do que se tem flutuando, são diversos riscos.  Muitos guris, ainda bem jovens, sem dominar a natação, sucumbiram afogados para desespero e tristeza profunda de algumas Famílias, que me traz amargas lembranças! Perdi amigos por lá! Valida-se fortemente o adágio popular: - “Cautela e canja de galinha, nunca é demais para ninguém!” Só que o adolescente reconhecerá isso muito tempo depois dessa fulgurante época na vida de todos nós!

A pesca, nunca foi a melhor alternativa nesse rio, pelo menos para mim. Algumas vezes em tempos antigos – falo da primeira metade do Século Vinte – contam meus irmãos e tios pescadores que conseguiam pescar dourados de bom porte. Já antecipei em crônica anterior que poucas vezes pesquei, dando nítida preferência às caçadas. No rio, gostava mesmo é de toda a confusão e o trabalho de acampamento em meio à Natureza que uma pescaria exige. O melhor de tudo, era reservado aos momentos de comilança em panela de ferro à beira do rio e ao dormir em rústicas barracas com chão forrado de pelegos, com o glorioso acordar cedo da manhã, com o cheiro da mata, da fumaça do fogo de chão e o glorioso cantar dos sabiás! Melhor: Sempre tem um colega que acordava mais cedo, contribuía somando ao cheiro de fumaça o do café passado na chaleira ou “cambona de lata”!

A repreensão anunciada no título dessa crônica é hilária, mas real. Assisti a preocupação de um Pai, o sr. Bella - com alguma limitação cognitiva - também sem o polimento apurado para uma expressão mais branda, ao admoestar seu filho Délcio, meu contemporâneo e parceiro dessas aventuras, ocorrido em uma das suas saídas a uma dessas perigosas pescarias:

- Óia guri: Tua me vai pescá, mas se tu me voltá morto, te mato a pau!

O ocorrido divertiu muito e "contei para todo o mundo", no que ficou gravado ao folclore da cidade por muito tempo e se trata de um fato coroando a vida no Interior como especial e cheia de alegres histórias e estórias a nos divertir. O importante, quando se narra, é o manter a segurança de o que falar das pescarias, se não vier recheada de algum exagero, não valeu a pena ou sequer existiu! Mantendo aquela máxima que diz:  Aquele que não sabe contar sua história, não merece tê-la vivido. Aquele que não tem história para contar, não merece ter nascido”!

terça-feira, 23 de abril de 2024

153) Avião da Latan dá Susto na Austrália.

No último onze de março desse ano de 2024, um voo da Latan entre Nova Zelândia e Austrália teve um incidente - não foi acidente - que deixou cinquenta passageiros feridos. O avião perdeu altitude subitamente, fazendo alguns tripulantes baterem com a cabeça no teto, sendo alguns hospitalizados e lá permaneceram em atendimento ainda que sem maior gravidade...

Que fenômeno é esse? Vácuo! Pois eu conheço, vivenciei um desses raros fenômenos que ocorrem na atmosfera e pregam uma perigosa peça com quem está voando. São absolutamente imprevisíveis, surpreendentes! Meu caso foi em março de 1987. Estava num pacote turístico de voo fretado, numa aeronave Airbuss A300 (primeira aeronave a usar side-stick no lugar do manche) da antiga e extinta VASP. Voo decolou do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre direto a Miami, destino dessa excursão, sem nenhuma intercorrência inicial!


Aeronave lotada de alegres e barulhentos turistas, maioria deles de “primeira viagem”, cuja alegria contagiante tornavam viagem mais divertida nem por isso mais interessante, também muito mais interativa do que voos de carreira. Nesse, todo mundo parece estar ávido de fazer novas amizades, que depois naturalmente se evaporam. Tudo parece uma grande festa. A dificuldade dos tripulantes manterem os passageiros sentados e com seus cintos afivelados, é imensa. É um tal de sinetas a chamar comissários para mais uma água ou um “suquinho” o tempo todo. Não há sossego, até altas madrugadas desse voo noturno.

Já era dia claro e a bagunça reestabelecida com a baderna do café da manhã, com novamente alguns pedindo mais um café, mais um biscoito e assim por diante. Pobre da tribulação que trabalha num ritmo alucinante para atender tanta reivindicação e alguns mal-humorados já iniciando reclamações com requintes de “educação em fase de profundo esquecimento”!

Levantei-me a dar “uma esticada”, caminhando até o fundo do corredor, na intenção de ficar um pouco em pé. Por sorte, através de uma janela de poltrona vaga lá no fundo, me chamou atenção o belo visual daquele amanhecer, de grossas nuvens brancas. Sentei e como de hábito, mesmo sendo de caráter provisório, afivelei o cinto.

Vácuo! Creiam-me, aquela imensa aeronave, de oito carreiras de poltronas lotadas, despencou! Ninguém pode avaliar por quantos metros ou segundos, foi uma queda que colocou todo mundo em estado de alerta, apavorados. Na sequência um estouro do choque do avião no ar que o sustentou. Nessa súbita queda, “voaram” algumas bandejas do café da manhã, xícaras por todo lado, muita sujeira e imediata chamada do Comandante – com voz de quem também se assustou -  mandando todos sentarem e atarem seus cintos de segurança! 

Antes de qualquer ação dos tripulantes, visivelmente também assustados, uma nova queda. Essa sim, “valeu a pena”! Bem maior! Muito assustadora. Se fez sentir nos quadris, a que veio o cinto de segurança. O assoalho nos abandonou. Se foi para baixo... Daquelas quedas que existem em alguns elevadores que fazem a gente sentir que está caindo, mas nesse caso, uma queda muito mais veloz, foi de dar um gelo no estômago e a sensação de que o cérebro esvaziou... Sim, uma curiosa tontura. Em alguns brinquedos da Disney simulam isso, mas de plena segurança, que não é o caso “aqui”...

Essa segunda queda, terrivelmente maior e quando do reencontro com a atmosfera não foi um estouro, foi uma explosão dando a sensação de que a aeronave se espatifara. Assisti um visual de grande medo com aquela imensa turbina e enorme asa a balançar, envergar como uma fina vara verde de um arbusto ao vento. Não imaginava que uma peça de metal daquele tamanho sustentasse tal “balanço” sem se romper!

Tudo na cabine virou uma bagunça. Até os leves jornais flutuaram e nenhum dos tripulantes que socorriam os passageiros do primeiro choque, ficaram em pé. Coisa que dá medo é ver profissionais da companhia aérea com seus os rostos transtornados, caras de medo contagiante, olhos fora de órbita e aí o choro dos passageiros, correu solto.

Fiquei íntegro, mas curioso é que perdi um pé de sapatos, só fui encontrá-lo depois, algumas carreiras à frente... Depois disso, mais uma hora de voo até Miami, com um silêncio sepulcral a bordo. Muitos juraram que não voltariam naquele avião. Talvez de ônibus, de carona ou até a pé para casa... Claro que, uma semana depois todos voltamos às casas na maior tranquilidade que na verdade, todos voos permitem, mas viver essa aventura involuntariamente, sempre agrega alguma coisa, nem que essa coisa, seja apenas uma nova experiência de medo muito intensa e bem vivida!

Mas o que é isso, que fenômeno é esse proposto no início dessa crônica? Vácuo, é um espaço de vazio absoluto, oco, desprovido de qualquer tipo de matéria, seja líquida, sólida, gazes, até mesmo de ar, no entanto o vácuo absoluto que consiste na ausência total de matérias (0,000 mbar) existe apenas na teoria. O grave na aeronáutica, é de que nenhum radar prevê esse fenômeno em suas rotas, não aparece em tela alguma... O Piloto sempre será pego de surpresa. Radar não avisa, simplesmente existe em sua frente e...

O vácuo é mais intenso que a gravidade, mais tênue e abrangente das Forças que regem o Universo. Para se ter uma ideia ainda que superficial, imagine que a Força da Gravidade dentro dele, se quadruplica!

Há quatro semana passada, estive voando em retorno de NYC, num voo por mais de dez horas a bordo de um Airbus 777-200. Garanto: Sem medo algum. Confiando plenamente na tecnologia e no desenvolvimento dessas aeronaves. E naquele meu "Anjo da Guarda", que já o apresentei aqui no meu blog!!! 

terça-feira, 16 de abril de 2024

 152) Motos: - Também me Aposentei!

Nas relações de amor e paixão por esporte, aventura e “pequenas loucuras”, o paraquedismo sempre estará em primeiro lugar por razões bem fáceis de explicar e de entender, por óbvio. Já relatei diversas vezes de quem nunca saltou de paraquedas, jamais entenderá os sentimentos e emoções que povoam nossa mente "caindo de uma aeronave"! Velocidade de até duzentos e cinquenta quilômetros por hora, o chão se aproxima vertiginosamente e por inacreditável que pareça, o paraquedista controla toda angústia e o medo residente na mente. Sensação de domínio da própria Existência, quando não se pode errar e não se erra! Talvez um ou outro "errinho"... De igual forma, impossível transmitir em palavras todo esse sentimento, considerando que tanto se fala em falhas humanas, ali a falha é letal e creiam-me, isso nem “passa na cabeça”! Convicção plena de que acidente, jamais acontecerão. Sem essa convicção, o segundo salto não aconteceria, isto é, o medo – verdadeiramente necessário – superaria a coragem e ficaríamos sossegados sentados à sombra vendo os outros saltarem!

O momento crítico do medo - nos primeiros saltos são classificados como PAVOR - acontece "lá em cima", entre a desaceleração do motor da aeronave, colocar-se na porta e SAIR! Como num passe mágico e é mágica a transição daquele medo horroroso, converte-se instantaneamente em forte euforia, alegria extrema, inexplicável. A sensação é de poder sem limites que é sem dúvidas o resultado químico de uma forte injeção de endorfina a substituir ou somar com a adrenalina no sistema, que ocorre em milésimos de segundos! Observe um dia, o passeio de um pássaro a voar com as suas asas bem abertas planando em alta velocidade! Já imaginou o que aquele pássaro está sentindo? Pois é...

Está certo. Já me envolvi em acidente de paraquedismo e foi grave. Mesmo assim, entre parar por um tempo e voltar a saltar, considerando o mesmo raciocínio daqueles que enfrentam o sacrifício de deixar de fumar, cada dia de abstinência, é contado nos dedos. Pois eu apenas interrompi minha sequência de uns trezentos saltos, nessa doentia contagem: Três anos, dois meses e três dias após o tal acidente, voltei a saltar e assim me mantive por não mais de uns trinta saltos, para então abandonar definitivamente o paraquedismo! Hoje sou um Paraquedista “em repouso”, pois aposentado me soa legal, parece punição.

A outra paixão, mais duradoura e a proposta de hoje, é o motociclismo. Não de competição, mas de laser para passeios, pequenas viagens e o gostoso “curtir o vento na cara”! Tudo começou com o Cezar me estimulando, como contei na última crônica. Meu limite foi depois de trinta e três anos de pilotagem, quando chegava à “provecta idade” dos sessenta e três anos.

De novo, não foi o medo, mas sinais, avisos vindos de alguma Entidade Superior que sutilmente Disseram:

- “Fausto agora chega, deixa isso no passado, porque tua maturidade impõe certos limites”... 

Não foi aviso através de um "Áudio Espírita"! A percepção nem sempre vem muito clara pelo verbo. Tampouco pelas advertências dos amigos e parentes que nos amam. Essas são insuficientes para mudar nossos rumos e atitudes. O homem é naturalmente orgulhoso e principalmente teimoso! Como pertenço a "essa segunda classe"...

Meu "Abençoado Aviso" não verbal, veio durante um passeio de moto, durante um calmo feriado porto-alegrense de dois de fevereiro. Proposta de rápida viagem de uns 100 km., acompanhado da minha esposa Elaine saindo de Porto Alegre, rumo à Serra. Ideia inicial ir até a Tenda do Umbu, local onde motociclistas se juntam habitualmente unicamente a celebrar um belo dia de sol! Fica em um local em meio às curvas da BR 116, rumo a Nova Petrópolis. Estrada de muitas curvas agraciadas de um ar puro e fresco a soprar em meio às árvores nativas da Região. Cheiro de mato faz parte dos prazeres que o motociclismo - fora da cidade - propicia!

Nessa época eu tinha minha segunda moto apelidada “Sete Galos”. Uma Honda CBX 750, preta, tipo esportiva com motor quatro cilindros, 82 CV de seis marchas. O apelido foi atribuído em função do número sete, correspondente ao galo, que tem essa numeração no jogo de azar, o jogo do bicho! O mais notável nesse equipamento é o vigoroso ronco do seu motor, quando em sua potente aceleração, deixa o piloto com “cabelos em pé!” Irônico, mas é verdadeiramente um barulho ensurdecedor que provoca profundo prazer para quem gosta de motor forte, poderoso!



Pois nesse dia com a cidade vazia, saímos no início da tarde em direção ao destino planejado em estrada inicialmente plana e sem curvas, que para pilotar uma moto não tem graça... Plano e em linha reta, chega a dar sono. O retorno foi programado a voltar por Taquara e Cachoeirinha. Estrada vicinal de topografia acidentada que com suas curvas e o sobe & desce, faz da viagem desafiadora e prazerosa, com uma “boa velocidade”. São muitos câmbios nas suas seis marchas, mudanças de direção bruscas, inclinações fortes em curvas que elevam o nível de adrenalina e a emoção é gratificante! Para quem gosta "disso", evidentemente!

Como recebi o "primeiro aviso": - Fui ocasionalmente retido durante alguns quilômetros por um micro-ônibus transportando uma banda de musica, sem chance para ultrapassagem. Aquele “conjunto festivo” em alegre trânsito, supostamente cantava e certamente bebia muita cerveja! Acontece que tristemente sem uma educação razoável, pois seus componentes jogavam fora suas latinhas de cervejas vazias e "quase" vazias pela janela fora. Isso aconteceu por três vezes tendo uma delas atingido o para-brisas (carenagem) da minha moto. Buzinei enlouquecidamente, sem a menor reação de “solidariedade” do motorista... Para me livrar deles, tive que executar uma ultrapassagem arriscada, muito além da minha tolerância e até competência, mas deu tudo certo. Estresse agudo sem maiores consequências! Ufa! Seguimos em frente tentando recuperar a alegria do passeio!

Segundo aviso: - Já na entrada da Capital, em sua primeira sinaleira (semáforo) junto à fábrica da Coca-Cola, na Av. Assis Brasil, o sinal verde baixou para amarelo, "enrolei o arame" (desacelerei...) e iniciei a frenagem. Percebi contudo a presença de um automóvel Fiat-147 branco, que se anteciparia à travessia cortando minha frente, entretanto, creio que ele percebendo que eu vinha “rápido” e ainda não tinha seu sinal em verde, gentilmente freou supostamente me cedendo a vez e foi então que levantei a aceleração! Subitamente o cara mudou de ideia e seguiu em frente a me cortar a já arriscada passagem. Freei bruscamente! Mas freei mesmo! Foi a minha mais enérgica freada dos trinta e a três anos de prática... Felizmente o bom freio à disco fez a motocicleta parar! 

Elaine na carona, desavisada se projetou contra mim com todo seu peso e aceleração. Fui parar acavalado sobre o tanque de gasolina e o coração saindo pela boca! O Fiat se foi embora tranquilo como se não tivesse cometido nenhum pecado! Fiquei parado, tirei o capacete, respirei fundo umas vinte vezes, recoloquei o capacete e segui em frente!



Terceiro e definitivo aviso: - Já muito próximo de casa, avenida do Forte, chegando a uma sinaleira fechada com alguns poucos carros aguardando,  tangenciei por sobre o passeio - totalmente vazio e seguro - a me colocar a frente de todos, na “pole position no grid de largada!" Acontece que um pequeno degrau desnivelando a pista de rodagem com a de passeio, fez escorregar a roda dianteira e deitar aquela monstra de 241 kg. Sim, um vergonhoso tombo! Felizmente dado a baixa velocidade, Elaine saiu  por cima de mim a passos largos se batendo em si mesma enquanto fiquei caído com uma perna embaixo da moto - sem me ferir -  e a moto por alguns segundos com seu motor "resmungando" lentamente! Parecia querer me dizer alguma coisa em código indecifrável, mas que entendi muito bem: - CHEGA!

Acudido por transeuntes, ambos sem ferimento algum a considerar, nenhuma gota de sangue ou esfolado, a não ser o amor próprio ferido e envergonhado de tamanha “barbeiragem! A maior dificuldade foi colocar aquela máquina em pé novamente, mas obtive ajuda solidária imediata! Volta para casa com o sentimento claro de que foi o derradeiro passeio naquelas inebriantes setecentos e cinquenta cilindradas de força!

Esse terceiro aviso, me remete a um sinal de alerta para o nosso natural relaxamento quando da proximidade do destino final da viagem. Livro "Biplano" escrito por Richard Bach, (antigo piloto de caças da Força Aérea Americana que até hoje pilota pequenas aeronaves por puro diletantismo, também autor de sessenta e um livros, inclusive do "best seler" Fernão Capelo Gaivota), que alerta serem os últimos minutos de uma viagem, já bem próximo de casa, o de maior perigo. Traz o livro a espantosa estatística de que 80% dos acidentes de carro com morte, acontecem a menos de dois quilômetros de casa! "Estamos quase chegando, e não chegamos..."

Pois bem. Creio firmemente que interpretar esses três avisos claros de que estava na hora de parar. Seria pouco inteligente se não entendesse e atendesse os avisos, devendo considerar também que com trinta e três anos pilotando moto dentro de cidade e algumas viagens sem nenhum acidente, já é uma bela marca a celebrar e encerrar o ciclo plenamente satisfeito! Moto vendida e algumas poucas fotos mais um capacete bonito, sem sinais de esfolados, sem cicatrizes ou trincas graças ao meu bom Anjo da Guarda, Eficiente e Dedicado. Depois desse derradeiro dia: 02 de fevereiro de 2011, estou "dando uma folga" a Ele!!!

terça-feira, 9 de abril de 2024

151) Pilotar uma Moto é Seguro, Mesmo Assim...

Ter minha própria moto, nunca foi um sonho equiparável a obter meu primeiro automóvel, talvez com o da primeira bicicleta, mas com o passar dos tempos e influenciado pelo Cezar Marson – amigo e colega de trabalho que adorava moto – fui desenvolvendo uma atração pelo veículo e as possibilidades de grandiosos passeios e esplêndidas paisagens que o veículo oferece a algumas estradas para esse tipo de “motor”!

Pois foi dele que em dezembro de 1978, comprei a “Beth”, uma moto pequena, Yamaha 125 cc “Enduro”! Modelo ainda importado adequado a terrenos irregulares, mas sem potência para competições “cross”! Por ser a primeira moto, também foi nela que fui treinado a dirigir esse desafiador tipo de condução. Comprei com a única intenção de passear, apesar de constantes reclamações da namorada da época, pelo fato de que motores dois tempos – cuja lubrificação é adicionada na gasolina – produz uma fumaça infernal que “perfuma” terrivelmente os cabelos de quem nela viajava.

Precisamente dois anos depois, entusiasmado pelas opções que uma moto de fato dá, comprei uma CB400 da Honda, na época de seu lançamento. Essa foi de plena realização, pois não produzia aquela “fumaça bagaceira”, que me permitia passeios mais limpos e até atividade profissional em visita a clientes. Mais motor, muito mais motor com o seus potente 400cc,  se comparado com a "pobrezinha de motor 125cc"!


Quando me mudei para o Rio de Janeiro em 1982, transportei-a comigo no caminhão de mudanças. Lá, com trânsito mais respeitador ao se manter dirigindo cada um em sua faixa demarcada no asfalto, me senti bem mais seguro como piloto! Rodar no Aterro do Flamengo era maravilhoso, todo mundo andava em desafiadora 120 km por hora!

Comentei isso com Cezar da minha alegria em poder rodar livremente com o refrescante ar marinho ao rosto – na época não era obrigatório o uso de capacetes – ao que ele me repreendeu severamente, num singelo diálogo ao contar a ele:

- Bicaco, (esse era seu apelido) estou finalmente me sentindo seguro. Ando até em alta velocidade, sinto que domino a moto e...

- Ah é?! Então vais morrer!

Recebi esse alerta como uma paulada na cabeça. Um susto! Minimizou sua advertência me passando uma boa argumentação de quão era verdadeiro o seu “exagero” verbal! De fato, soou forte aos meus ouvidos me provocando a consciência do perigo que existe no excesso de confiança. Sabedoria essa que passei adiante, inclusive aos meus alunos na Faculdade, sobre qualquer situação de risco. Não ouse em área de perigo. Não confunda coragem com ausência do medo, essa segunda é letal!

Nesse último domingo 07/abr/2024, na Comunidade Evangélica da Cruz, o Pastor Jordan Madia - também motociclista - Pregou sobre o medo e tudo o que esse sentimento reserva em nossa Alma e o quanto representa na nossa Vida! Como nos postamos e nos meios de buscar junto ao Eterno a pacificação da nossa Alma, sistematicamente ameaçada, angustiada!

O relaxamento, tranquilidade nos coloca em uma situação de conforto temerária. O descuido ocorre com frequência, não importa se é no ciclismo, paraquedismo e até o simples correr em estradas, que de simples não tem nada, lembrando que o primeiro – o ciclismo – é o esporte/transporte que mais mata no mundo inteiro. Nas vezes que dei instrução no paraquedismo, também afirmava com veemência de que nunca se deve perder o medo de saltar, pelas mesmas razões elencadas pelo meu amigo Cezar! Muito obrigado Bicaco!!!

Exemplo prático, no paraquedismo, ocorreu com Patrick de Gayardon, um notável paraquedista francês, skysurfer e BASE jumper, famoso por romper limites no paraquedismo. Foi um dos primeiros a desenvolver o estilo único de skysurf, em que o atleta usa uma prancha no ar a fazer manobras acrobáticas. Foi também um dos primeiros a desenvolver o estilo “Wingsuit” com um novo conceito de ter asas flexíveis no próprio macacão, por vezes referido como “terno de morcego”.  Considerávamos o verdadeiro “Papa” do paraquedismo, no entanto, em 1998 aos trinta e oito anos de idade, Patrick morre no Havaí, em acidente de paraquedas atribuído a um erro de manipulação no seu equipamento com algo extremamente elementar! Descuido, óbito!

Na Mitologia Grega - na Ilha de Creta - essa advertência ao excesso de confiança, à soberba, já advertiu Dédalo, famoso Arquiteto Grego, ao seu filho Ícaro, que ao se prepararem a fugir de suas prisões perpétuas condenadas no intransponível  labirinto. Com asas construídas com penas de pássaros e cera, alçariam voo. Foi quando do sábio conselho observando  que quando os limites não são visíveis, esses se tornam os mais perigosos. Frequentemente não os levamos a sério, simplesmente o desconsideramos. A Sabedoria de Dédalo disse: “Nem muito ao céu, nem muito ao mar”! Foi essa a advertência ao seu filho, ao cuidado de se ficar no intermediário, longe dos excessos que geram resultados desastrosos. Nesse ato da Mitologia, afirmava Dédalo que ao subir demais a aproximação com o Sol, derreteria suas asas de cera. Muito próximo ao Mar, essas ficariam molhadas, pesadas e ele sucumbiria. Ícaro não leva a sério e encantado sobe às alturas mais e mais! Seu voo em elevada altura se aproxima do Sol e suas asas derretem e Ícaro cai, morre!  

Grandiosa Sabedoria aplicável não só no esporte de alta performance, vale também para relações profissionais, esportivas, familiares e por que não afirmar nas relações de amor?! Todo excesso, mais cedo ou mais tarde, será punido. A soberba pune. Sem se deixar paralisar pelo medo, como tudo o que é perigoso, deve-se manter distância com uma bem medida cautela e coragem revestida de inteligência.

terça-feira, 2 de abril de 2024

 150) Ilhas, Encerrando um Ciclo! (Só das ilhas...)

Semana passada anunciei que em março de 2025, estarei voltando à Ilha de San Andrés e Cartagena na Colômbia. O que encerro hoje é crônica sobre ilhas e da minha relação com a “ilha” visitada há poucos dias, a badaladíssima Manhattan NYC, nos Estados Unidos. Visitando pela nona vez, faço despedida sem nenhum sentimento de tristeza ou saudosismo porque a admiração e atração por essa bela "Ilha Americana" é imensa, mas já me é permitido uma despedida sem lágrimas!

Dessa feita fui só, pois Elaine está profissionalmente impedida de certas folgas no meio do nada, nem férias nem de feriadão, foi obrigada a ficar em casa e em plena metade do mês de março, se queixar pelo "watts”, do severo calor de Porto Alegre daqueles dias, enquanto eu contestava dizendo que estava achando ótimo os três ou quatro graus que vivenciava...

O que presenciei de forma muito clara nessa ida aos EUA e de inequívoca satisfação, é de que a Nação Norte Americana, superou galhardamente toda crise gerada pela epidemia do Covid. A movimentação de turistas e o fluxo de pessoas nas lojas, nas ruas, museus, teatros, restaurantes e no metrô – lá chamado de “sub way” – é um absurdo! A cidade está muito viva e onde por alguns tempos tiveram portas fechadas, hoje são novas lojas ressurgindo e voltando a fazer a pujante economia rodar em alta velocidade!

Na Política, parece que o entusiasmo visto em tempos passados, já não brilha tanto, apesar de estarem em ano de Eleição Presidencial. Num dado momento forcei um pouco ao caminhar pela Quinta Avenida, e entrar na “Trump Tower” e apreciar o luxo, requinte das instalações acessíveis ao público em geral. Lá sim, a campanha ao “Loiro Bilionário” é festiva e entusiasmada, por óbvio!

Fui questionado por alguns amigos: -“Novamente em NYC”? Sim. Muitas atrações, principalmente em Museus, como o Metropolitan Museum e o American Museum of Natural History, não se consegue apreciá-los em um único dia com a atenção que merecem. São de uma riqueza infinita e de enormes dimensões que acabam exigindo do visitante uma energia imensa. São verdadeiros Tesouros da Humanidade expostos com tamanha criatividade que encanta a todo visitante. Como tudo nos dias atuais da nossa relação de moeda, tudo muito caro. Museus e teatros cobram algo em torno de cento e cinquenta dólares, seus ingressos. Como são locais únicos no mundo, não se pode renunciar. Considere-se Investimento em Cultura!

Tomar o veloz elevador e subir os cem andares do World Trade Center – logicamente pago – é uma das atrações imperdíveis. Fica ao lado do “BURACO”, de onde existia uma das duas torres do prédio abatido em 11 de setembro de 2001. Esse sim, o buraco, recomendo visita rápida apesar da sua exuberante homenagem aos que lá padeceram naquele trágico ataque terrorista. Seus nomes estão lá gravados à eternidade. Rápido sim, porque sente-se uma pressão negativa muito estranha que deprime e afasta qualquer alegria que tenhamos durante aqueles minutos que por lá se dispensam. É como se estivéssemos diante um Imenso Túmulo Aberto, onde jazem duas mil seiscentos e seis almas, que sem entender, sem culpa ou pecado, ali foram executadas!


Mais coisas boas e sem querer plagiar a revista “Kátia Zero”, que muito bem ilustra sobre a Cidade, existem algumas atrações “free” que chamam atenção e que também valem muito a pena. Primeiro exemplo, as duas pontes que unem a Ilha de Manhattan ao Brooklyn. Ambas naturalmente com nomes dos locais envolvidos: Brooklyn e Manhattan Bridges. Uma caminhada interessante, em meio a milhares de turistas, que com suas rampas dão acesso a 1.834 metros na primeira e 2.089 na segunda. A vista que se tem do East River, do alto dessas pontes com seu tráfego de embarcações diversas, é encantador. Vale longos minutos de contemplação!


O Central Park! Ah o Central Park é algo para horas, dias de visita. Voltar lá mais vezes e caminhar olhando a tudo e olhando para o nada! Nesses dias que estive por lá estava cinzento, pois sua abundante arborização, está completamente desfolhada em virtude da Estação, saída do Inverno. Localizada no coração da “Big Apple” com seus quatro quilômetros de extensão por oitocentos metros de largura, resulta numa área de três vírgula quarenta e um quilômetros quadrados! (Apenas para comparação doméstica, o Ibirapuera em São Paulo, tem um quilômetro e meio!) Locais frequentemente mostrados em filmes e na televisão, se tornaram conhecidos no mundo todo. Atraem pessoas – aproximadamente quarenta e dois milhões por ano - de todos gostos, pois por lá, tudo se encontra! Desde pessoas exóticas, pessoas comuns, artista de Hollywood, gente elegante e de refinado gosto e maltrapilhos. Alguns mostrando suas artes, suas obras e outros como eu, apenas curtindo visuais únicos de vida e glória! Cabe uma rápida passada ao glamoroso Edifício Dakota, onde John Lennon viveu seus últimos dias e no pórtico de entrada, onde foi assassinado em 08 de dezembro de 1980, por Mark Chapman.

 

Comidas! O Mundo Todo aqui se representa e até churrascaria! Sim, a excelente “Fogo de Chão Brazilian Steakhouse” que não é a única, pois são diversas que atendem ao paladar do Gaúcho! Imagine uma nacionalidade qualquer, e lá certamente se encontra um restaurante que a represente. E ainda assim, também com níveis variáveis de qualidade e preço, apesar de que, não abro mão jamais, de um cachorro quente daqueles de rua. Sem molho, sem nada. Apenas aquele pãozinho relativamente fino com uma salsicha grossa –  com o mesmo o círculo do pão – um pouco de mostarda e pronto! É excelente, podem apostar. Único lanche disponível que não chamo de barato, mas que se paga um “volume baixo” de dinheiro, entre seis a oito dólares.

Meu entusiasmo por viagens, já deu para perceber. Agora eu canso um pouco mais, mas não vou renunciar o prazer de viajar, voar, sentir aquele cheiro de perfume francês no interior dos aeroportos e o bafo da queima de querosene dos aviões a jato. Meu passaporte sempre estará atualizado e colocado logo na primeira gaveta da mesa do escritório! É só pegá-lo e chamar o táxi, porque as malas já estão prontas na porta de saída de casa!