terça-feira, 23 de abril de 2024

153) Avião da Latan dá Susto na Austrália.

No último onze de março desse ano de 2024, um voo da Latan entre Nova Zelândia e Austrália teve um incidente - não foi acidente - que deixou cinquenta passageiros feridos. O avião perdeu altitude subitamente, fazendo alguns tripulantes baterem com a cabeça no teto, sendo alguns hospitalizados e lá permaneceram em atendimento ainda que sem maior gravidade...

Que fenômeno é esse? Vácuo! Pois eu conheço, vivenciei um desses raros fenômenos que ocorrem na atmosfera e pregam uma perigosa peça com quem está voando. São absolutamente imprevisíveis, surpreendentes! Meu caso foi em março de 1987. Estava num pacote turístico de voo fretado, numa aeronave Airbuss A300 (primeira aeronave a usar side-stick no lugar do manche) da antiga e extinta VASP. Voo decolou do aeroporto Salgado Filho em Porto Alegre direto a Miami, destino dessa excursão, sem nenhuma intercorrência inicial!


Aeronave lotada de alegres e barulhentos turistas, maioria deles de “primeira viagem”, cuja alegria contagiante tornavam viagem mais divertida nem por isso mais interessante, também muito mais interativa do que voos de carreira. Nesse, todo mundo parece estar ávido de fazer novas amizades, que depois naturalmente se evaporam. Tudo parece uma grande festa. A dificuldade dos tripulantes manterem os passageiros sentados e com seus cintos afivelados, é imensa. É um tal de sinetas a chamar comissários para mais uma água ou um “suquinho” o tempo todo. Não há sossego, até altas madrugadas desse voo noturno.

Já era dia claro e a bagunça reestabelecida com a baderna do café da manhã, com novamente alguns pedindo mais um café, mais um biscoito e assim por diante. Pobre da tribulação que trabalha num ritmo alucinante para atender tanta reivindicação e alguns mal-humorados já iniciando reclamações com requintes de “educação em fase de profundo esquecimento”!

Levantei-me a dar “uma esticada”, caminhando até o fundo do corredor, na intenção de ficar um pouco em pé. Por sorte, através de uma janela de poltrona vaga lá no fundo, me chamou atenção o belo visual daquele amanhecer, de grossas nuvens brancas. Sentei e como de hábito, mesmo sendo de caráter provisório, afivelei o cinto.

Vácuo! Creiam-me, aquela imensa aeronave, de oito carreiras de poltronas lotadas, despencou! Ninguém pode avaliar por quantos metros ou segundos, foi uma queda que colocou todo mundo em estado de alerta, apavorados. Na sequência um estouro do choque do avião no ar que o sustentou. Nessa súbita queda, “voaram” algumas bandejas do café da manhã, xícaras por todo lado, muita sujeira e imediata chamada do Comandante – com voz de quem também se assustou -  mandando todos sentarem e atarem seus cintos de segurança! 

Antes de qualquer ação dos tripulantes, visivelmente também assustados, uma nova queda. Essa sim, “valeu a pena”! Bem maior! Muito assustadora. Se fez sentir nos quadris, a que veio o cinto de segurança. O assoalho nos abandonou. Se foi para baixo... Daquelas quedas que existem em alguns elevadores que fazem a gente sentir que está caindo, mas nesse caso, uma queda muito mais veloz, foi de dar um gelo no estômago e a sensação de que o cérebro esvaziou... Sim, uma curiosa tontura. Em alguns brinquedos da Disney simulam isso, mas de plena segurança, que não é o caso “aqui”...

Essa segunda queda, terrivelmente maior e quando do reencontro com a atmosfera não foi um estouro, foi uma explosão dando a sensação de que a aeronave se espatifara. Assisti um visual de grande medo com aquela imensa turbina e enorme asa a balançar, envergar como uma fina vara verde de um arbusto ao vento. Não imaginava que uma peça de metal daquele tamanho sustentasse tal “balanço” sem se romper!

Tudo na cabine virou uma bagunça. Até os leves jornais flutuaram e nenhum dos tripulantes que socorriam os passageiros do primeiro choque, ficaram em pé. Coisa que dá medo é ver profissionais da companhia aérea com seus os rostos transtornados, caras de medo contagiante, olhos fora de órbita e aí o choro dos passageiros, correu solto.

Fiquei íntegro, mas curioso é que perdi um pé de sapatos, só fui encontrá-lo depois, algumas carreiras à frente... Depois disso, mais uma hora de voo até Miami, com um silêncio sepulcral a bordo. Muitos juraram que não voltariam naquele avião. Talvez de ônibus, de carona ou até a pé para casa... Claro que, uma semana depois todos voltamos às casas na maior tranquilidade que na verdade, todos voos permitem, mas viver essa aventura involuntariamente, sempre agrega alguma coisa, nem que essa coisa, seja apenas uma nova experiência de medo muito intensa e bem vivida!

Mas o que é isso, que fenômeno é esse proposto no início dessa crônica? Vácuo, é um espaço de vazio absoluto, oco, desprovido de qualquer tipo de matéria, seja líquida, sólida, gazes, até mesmo de ar, no entanto o vácuo absoluto que consiste na ausência total de matérias (0,000 mbar) existe apenas na teoria. O grave na aeronáutica, é de que nenhum radar prevê esse fenômeno em suas rotas, não aparece em tela alguma... O Piloto sempre será pego de surpresa. Radar não avisa, simplesmente existe em sua frente e...

O vácuo é mais intenso que a gravidade, mais tênue e abrangente das Forças que regem o Universo. Para se ter uma ideia ainda que superficial, imagine que a Força da Gravidade dentro dele, se quadruplica!

Há quatro semana passada, estive voando em retorno de NYC, num voo por mais de dez horas a bordo de um Airbus 777-200. Garanto: Sem medo algum. Confiando plenamente na tecnologia e no desenvolvimento dessas aeronaves. E naquele meu "Anjo da Guarda", que já o apresentei aqui no meu blog!!! 

12 comentários:

  1. Grande narração. Exitante e educativa. Estou indo para a Austrália... vou ficar amarrado na poltrona, levar um papagaio para não ter que ir ao banheiro...

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  2. Já passei por isso! É realmente assustador! Melhor mesmo é simulação na Disney!! Muito bom priminho ❤️❤️❤️👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
    Lina

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  3. Ótimo relato Fausto.
    Uma observação quanto ao side- stick nos U.S.A. os AIRBUS todos têm manche de coluna.
    Ivan.

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  4. Pois é, para isso é importantissimo sempre ficar afivelado com o cinto. Até quando vou ao banheiro uso um dos braços apoiado no curvo e baixo teto.
    Correção a um comentário: TODOS os Airbus têm sidestick. Manche é coisa do passado e só a Boeing ainda os usa.
    Correção a você: voce voltou foi num Boeing 777-200...

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  5. Mais em belo texto amigo Fausto... descrição detalhada e perfeita do fenômeno vácuo...abs

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  6. Correção: o A300, o mais antigo da Airbus tinha manche.

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  7. Pareceu filme de terror, mas com final feliz! Parabéns por relato tão realista! Quem viaja frequentemente e nunca passou por isso? Abração. Bidart

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  8. Que relato incrível e que experiência assustadora!! Felizmente nunca passei por isso.

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  9. Nunca passei por isso, deve ser um susto e tanto.
    Bem relatado com direito à detalhes técnicos, sem deixar de detalhar a emoção sentida em ambas as situações.
    Obrigado por nos abrilhantar com uma nova emoção vivenciada.
    Abraço!

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  10. Que medo ! E vc pensou em um paraquedas?

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  11. Fausto, literalmente, sua vida não "passou em brancas nuvens"!
    Ótima narração.
    Meu ex marido era piloto amador. Viajar sempre afivelado.

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