quarta-feira, 10 de julho de 2024

162) Segunda fase dos Saltos no Festival de Balonismo!

Na sequência do Festival de Balonismo, iniciada na crônica da semana passada, vamos para o quarto e último salto de paraquedas do Evento. Desta feita, o amigo Adir estava novamente comigo. Nesse salto, me foi passada a honrosa responsabilidade de comandar como Mestre de Salto! Lasiê é quem tudo definia e em terra e decidia. Foi quando teve um cuidadoso e eloquente “briefing” comigo:

- O Fausto: “Pelamordideus” não me faz cagada! Se o PS não for bem definido, que não saia, não lança ninguém, OK?! Olha prá mim porra! Não me erra o alvo! Entendeu?

- Siiiimmm chefe!

Todos os procedimentos de voo deveriam se repetir, com o máximo cuidado do tão desafiador "PS". Revelo humildemente que minha tensão nervosa e o batimento cardíaco estavam no limite tolerável... Entretanto, com a licença da Confederação de Paraquedismo em dia e os exames cardiológicos todos em perfeita condição de saúde para aquela prática, fui sem um medo tão grande que me paralisasse!

Novamente cinco paraquedistas embarcados na mesma aeronave, um Cessna 210, de fabricação americana, ronca com seu monomotor a pistão, asa alta de construção metálica convencional e trem de pouso não retrátil, que além do Piloto, acomoda – com a remoção dos bancos - cinco PQD’s, naturalmente todos muito apertados dentro da cabine. Seu possante motor dispara pista afora com bravura exalando o cheiro forte de gasolina de aviação, rolando na pista até atingir alta velocidade e é quando o descolamento do solo acontece e a emocionante sensação é de que é o chão quem está nos abandonando...

A visualização do alto é inebriante pela paisagem que se descortina! Com a adrenalina já “lá em cima”, subimos e a vista da Região nos encanta. Um pouco da Mata Atlântica, as curvas do rio Mampituba, que separa o Rio Grande do Sul de Santa Catarina, aquele Mar de cor verde escuro definem a encantadora paisagem aérea! Enquanto dentro da aeronave, o curtir das alturas é vivido num raro momento de alegria e tensão, até que se atinja a altura prevista para a saída: Os sete mil pés.

Altímetro indica os sete mil pés de altura, então é hora de voar na reta do eixo da pista, abrir a porta e receber o choque térmico ao sentir a súbita invasão do vento com uma diferença de uns quinze graus centígrados a menos. É a temperatura que gela o interior da cabine. Cabeça prá fora a localizar o alvo, e determina o “PS”:

- Chegamos! 

Coração sobe seu batimento a um ritmo que é melhor não medir, melhor nem saber... Ordem ao Piloto de cortar o giro do motor. Diminui a velocidade para que o choque com o ar lá fora não seja tão agressivo! Sai o primeiro atleta. Sua saída emite um som de uma pancada contra o ar que se ouve o curioso "estouro"! Som surdo de uma batida de um corpo contra o vento lá!


 

Tudo regular e perfeito e lá se vão os dois primeiros a uns duzentos e cinquenta quilômetros por hora, caindo rumo ao solo. É momento de rara emoção e júbilo. Em círculos, a aeronave veio adquirindo altura até o combinado. Serão dois lançamentos, saíram os dois primeiros e os restantes, onde me incluo, como o último a abandonar a aeronave. Na primeira passada, o abrir a porta é acionando de baixo para cima até um gancho que a sustenta contra a asa e ali permanece presa.

Mais um círculo completo de seus trezentos e sessenta graus e vamos para última saída dos três restantes, entretanto nessa vez, ao chegar próximo à saída, o Piloto não foi preciso na linha do eixo da pista, a reta final, errou. Lembrando a convincente recomendação do Professor Lasiê, abortei o lançamento e mandei o piloto a fazer novo procedimento, novo giro o que o deixou muito indignado. Toda aquela segunda volta significava mais um bom volume da caríssima gasolina consumida...

Ao fazer toda essa nova volta, foi minha vez de errar: - Deixei a porta aberta durante todo aquele novo percurso sofrendo a natural trepidação de voo, própria daquela velocidade. Quando novamente na reta final, por ação desse forte vento, a porta de pouco mais de um metro quadrado, talvez com seus cinquenta quilos ou mais, trepidou tanto que se rompeu ao meio fazendo um barulho assustador. Esse pedaço ao se partir, foi batendo em toda a fuselagem da aeronave nos assustando muito! O piloto enlouqueceu! Desesperado com o provável estrago que esse pedaço de porta possa ter causado ao corpo da aeronave e principalmente ao profundor, o que dificultaria severamente sua navegação e em especial, o seu pouso, berrava desesperado:

- Meu Deus! A porta rebentou o profundor! Eu vou cair!

Também aos berros procurei acalmá-lo assegurando que iria “lá fora” fazer a verificação. Lancei os dois paraquedistas e fiquei sozinho com o piloto. Lá fui eu os estragos causados! “Cravando as unhas” na fuselagem, procurando ficar preso nela a não cair, até que visse da regularidade ou não do “bendito” profundor. Verificação visual me pareceu que não tinha nenhum dano. Voltei ao interior da aeronave, tranquilizei-o afirmando que estava tudo inteiro e “desembarquei”! Comandei abertura do velame imediatamente para observar como prosseguia o voo, mesmo sem mais nada a fazer, senão simplesmente ficar olhando... 

Seguiu seu voo, pelo menos nos primeiros segundos que o observei, retornando a Porto Alegre regularmente sem novos sustos e ameaças. Meu pouso foi normal, fomos aplaudidos e o piloto voltou a Porto Alegre e nunca mais nos falamos. Acho que vai bem, obrigado! 

19 comentários:

  1. Acho que emoções mais fortes que essa só em combate na frente de batalha com pouca munição. Mauro

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  2. Belo relato...mas que tensão e pressão hein...

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  3. Bons tempos Faustinho.

    Abraço, Video

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  4. Só lendo já tenho arritmias... Kkk
    Haja coração p tantas emoções,!
    Bom é o tanto de causos p excelentes crônicas . Abç

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  5. Que horror ! Faustinho gosta de fortes emoções.

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  6. Cruzes, essa foi forte! Meu amigo, vc tem uma coleção de casos que são pura emoção, muita adrenalina ....

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  7. MAYRA VIRGINIA SESTI PAZ12 de julho de 2024 às 03:46

    Dessas emoções tô fora! Sou uma covarde convicta em relação a altura... Mas admiro a tua coragem, parabéns!

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  8. Sensacional!!!!!! Kkkkkkk

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  9. Muito bom.
    Confesso que tive uma taquicardia lendo a tua história.
    Ainda não saltei de paraquedas. Será que é muito tarde???

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  10. Que tensão Fausto, só de ler teu relato já fico apreensivo, haja coração!
    Só de andar no Barco Wiking já fiquei todo ruim, imagina numa circunstância dessas.
    Excelente narrativa!

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  11. Muito bom. Só aventuras!

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  12. E as grandes emoções continuamos! Mais uma belíssima crônica! Parabéns! Bidart

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  13. Essa foi demais, estou rindo até agora, que venha o próximo conto kkkkkkk

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  14. Baita aventura, meu amigo. E muito sangue frio!!!

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  15. ET: Sou o último "anônimo"

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  16. Ta doido Fausto! Eu infartava!

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