163) Pão com Mortadela!
Tenho lido com frequência do medo que os Homens em geral, ficam
assustados, com a tal de Terceira Idade, forma polida de nominar a “velhice
chegando”! As diversas limitações com o avançar da idade e ao que tudo
indica, despertando cada vez mais a saudade da juventude. Essa saudade tem uma inspiração negativa interpretada pelo inigualável Charles Aznavour, com uma de suas melodiosas
canções com o verso “quando j’avais vingt ans”! Vinte anos! Ah vinte anos!
Será que era uma época de nossas vidas tão brilhante assim? Minha juventude foi
admirável, extremamente feliz em tudo! E não é quase tudo, é tudo mesmo! "Thanks Lord!"
Nessa época fiz parte de um movimento migratório, isto é, final da década de sessenta, deixando o interior do Rio Grande do Sul – Jaguari – rumo à Capital na busca de um Curso Superior, que se impunha obrigatório. Fiz a Faculdade de Administração de Empresas e mais adiante segui em frente em outros patamares, felizmente!
Chegando ainda "guri" na Capital Gaúcha, com poucos “pilas” no bolso, fui
correndo atrás de emprego. Tive o cuidado de catalogar, em vinte e um dias, três “balcões” de emprego a cada dia, quando ao cabo desse período, estava empregado. Trabalhava na Contabilidade da GB-Cia. de Crédito Imobiliário, como Técnico em Contabilidade fazendo lançamentos contábeis, datilografando-os em “slips”, na minha Olivetti
manual em que era muito rápido. Tinha um ganho bruto de dois e meio salários
mínimos.
Suficiente, mas absurdamente apertado para "dividir" o quarto de uma pensão, vales para refeição no RU, “cursinho pré-vestibular” e auto exigia uma quantia mensal destinada a poupança, que julgava compulsória! A coi$a era difícil mas factível! Morava pouco mais de três quilômetros do trabalho e me impus uma regra inegociável: ”Dia em que vem de ônibus, não toma café da manhã!” Guardo em mente dos dias da caminhada, quando chegava na Confeitaria Matheus, no centro da cidade, pedia um delicioso pão com manteiga e uma taça de café com leite! Ia trabalhar regozijado e feliz, bem melhor de trabalhar do que dos dias de jejum obrigatório!
Era até romântico era, só que no mesmo momento, chegava ao balcão um moço, talvez da minha idade, elegantemente engravatado e pedia um invejável “farroupilha” e um café com leite! O farroupilha era o apelido de nada mais nada menos do que um pão com mortadela! Lá, o pão francês era de pequeno porte, crocante, maravilhoso! Cabe um comentário à parte de que só aqui em Porto Alegre o chamam de “cacetinho”! (Esse apelido do pão, já causou muito embaraço, por óbvio!) Pois bem, confesso minha sincera inveja daquele cara! Imaginava, "com essa pedida, esse cara deve estar muito bem empregado ou é rico, muito rico!”
Lá se vão mais de meio Século e as lembranças desse período feliz, não me
abandonaram jamais! Mesmo como as avaliações que fizemos do passado e projeções de vida com um futuro melhor, que muitas vezes mudam prioridades com o passar dos dias. Toda aquela dificuldade, foi construtiva até para a dificuldade para comer
bem, nos remete a um tempo bom e alegre e era de fato tudo isso! Vivia coberto de esperança pelo amanhã que eu ia conquistar! É admirável como o crescer com dureza nos adiciona coisas preciosas, não
só a Sabedoria, mas o reconhecimento das coisas boas que a Vida nos dá!
Eram tantos os sonhos. Prioridade o de entrar numa Faculdade e depois ter um carro. Esses conquistados, vieram os outros e mais outros que com paciência ou até mesmo SEM paciência foram chegando! Tropeços? Muitos, até no quesito do primeiro carro, que durou somente quarenta dias para eu me acidentar e destruí-lo completamente. Graciosamente foi só prejuízo material. Sai ileso depois de uma capotagem de quatro voltas! Drama? Trauma? Claro que não! Tive muito mais lágrimas por excesso de riso do que por tristeza! Entendo que aceitar o infortúnio e buscar obstinadamente por recuperação, faz parte da construção da felicidade em sensação de êxito!
Não
me sinto preparado para discurso e uma abordagem motivacional, mas tenho clara percepção de
como reclamar da vida, torna-a ainda mais trabalhosa, ácida! Creio firmemente que o “Carpe Diem” em nada
resolve, mas torna a Vida mais colorida!
Hoje não me furto em atender um curioso desejo: Morando em Porto
Alegre há cinquenta e cinco anos, em primeiro lugar o tenho o Direito de chamar aquele pãozinho francês
de “cacetinho”! Então, acontece que ao passar por uma padaria, seja do supermercado, quando
exala aquele perfume maravilhoso do pão feito na hora, empacoto alguns deles, crocantes cacetinhos, que lambuzado de uma generosa manteiga devoro uma, duas ou mais
fatias de mortadela e fazem do lanche, uma deliciosa memória de saudades da juventude! Ademais,
prefiro a idade que tenho hoje com meus setenta e seis anos incompletos,
quando saboreio rindo, um “Pão com Mortadela”, e melhor ainda: Posso comer quanto e quando bem entender!
Agora eu vi, o Fausto vive intensamente, que legal esse modelo de vida, tenho uma filha que vive assim, admiro essa coragem, minha história é parecida com a tua,porém eu só trabalhei e não vivi, agora comecei a fazer, nunca é tarde viver intensamente, obrigada por compartilhar.
ResponderExcluirÓtimo desenvolvimento da tua história de vida Fausto.
ResponderExcluirFelicitações. Ivan
Amei, Fausto! Histórias que toda gente vive ao começar suas histórias... Recordar assim é nostálgico... bonito... dá saudade daqueles tempos...
ResponderExcluirQue maravilha, meu amigo! Como é bom recordar! Que a vida siga permitindo momentos maravilhosos! Excelente texto. Bidart
ResponderExcluirOlá meu amigo Fausto, suas histórias realmente nos remete ao passado. Gratidão por compartilhar com nós.
ResponderExcluirAbraços fraternos
Sempre merecido, XÉ
ResponderExcluirPois, entendo que foste
ResponderExcluire és muito feliz. No meu tempo de internato minha janta era pão com rapadura. Mauro.
Fausto, esse relato sobre os sonhos de cursar uma faculdade e ser dono do próprio destino, acho que era comum a todos aqueles que deixaram sua terra natal em busca de realizações, pessoais e financeiras!! Sobre o relato do pão com manteiga e a “ média” de café com leite, me fez lembrar a minha passagem pela casa do estudante, quando fiz a faculdade na UFSM. Só, que esse lanche da manhã não era tão glamouroso, pois era feito no RU da reitoria!! Boas lembranças 👍👍👍
ResponderExcluirDante
ResponderExcluirFantástico !
ResponderExcluirMoacir Ughini.
ResponderExcluirBons tempos quando tudo era valorizado, um simples café com pão já era um banquete p um estudante. Todos os perrengues serviram de degraus p a prosperidade e hj vimos o qto fomos felizes. Vivas a nossa geração!
ResponderExcluirElaine Diefenbach
ResponderExcluirAdorei e voltei no tempo nas noites de Ulbra em canoas. Lanches era muita grama então compravamos em atacado pastelinas . Eu fazia vaquinha e comprava para toda turma. Assim conseguiam aguardar jantar em casa.
ExcluirRecordar é viver! Ter sonhos e realiza-los é maravilhoso. A trajetória da sua vida é fantástica! Amei! A lembrança do pão com mortadela me fez reviver meus tempos de IBM.
ResponderExcluirBela narrativa, vizinho Fausto, só quem que por volta de 1970 deixou o campo, colocando tudo na mala de garupa, pegando a estrada para a capital, sabe o significado dessa decisão, o que talvez tenha sido apenas a primeira aventura.
ResponderExcluirParabéns pela caminhada abraçada!
Quem te conhece um poço Fausto,sabe da alegria e da simplicidade que tú és.tenho orgulho de tê-lo como amigo 👍(Daniel)
ResponderExcluirA vida é bela meu cunhado a gente que complica. Tem pessoas que lembram as dificuldades com alegria,
ResponderExcluiroutras as usam para um eterno lamento e desculpas para sua amargura.
Tida
É isso aí primo! Viver mais leve é viver mais feliz! Que bom que temos no sangue esse modo de ver a vida!! Mesmo muitas vezes sem paciência! ❤️
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