quinta-feira, 1 de junho de 2023

 113) Paraquedismo: - Emoção sem Limite!


Numa tarde qualquer do Verão de 1995, recebi a habitual ligação do meu mano Percy,  quando comentou indignado e pesaroso de que seu filho mais novo, o rebelde Waldemar, tinha feito uma bobagem sem tamanho, incrível: - "Matriculou-se num Curso de Paraquedismo!" Interrompi logo a conversa pedindo a falar imediatamente com ele:

- Walde! Que legal! Onde é o curso? Posso fazer o curso contigo?!

Decepção monumental do meu irmão com minha irresponsável atitude! Coitado do pai zeloso e apreensivo! Esperava um discurso a demovê-lo da tal loucura. Pois na sequência, fizemos o louco, desafiante curso na Área de Paraquedismo da cidade de Sapiranga-RS, na Escola Evolução de Paraquedismo, comandada pelo Professor e amigo Lasiê, num discreto aeroporto com pista de grama para pequenas aeronaves! No curso, após a cuidadosa fase teórica, veio a desafiante e temida fase prática: - Primeiros sete saltos foram os "enganchados", cuja abertura do velame se dá por conta de uma fita enganchada na aeronave que tira o pilotinho e faz a abertura do velame. 

Foi o viver de uma fase das maiores emoções e derramamento de adrenalina da minha vida! Repeti muitas vezes: Quem já saltou, não encontra palavras suficientes para descrever o que é o "abandonar" uma aeronave num imenso vazio! Abrir a porta e voar livre, leve e solto a mais de 250 km por hora rumo ao solo!

Quem nunca saltou, jamais entenderá o que significa esse desafio enlouquecedor, de cair nesse imenso vazio que há entre a aeronave e o solo! Se abandona a segurança dos pés firmes de dentro de um avião e voar! É inebriante! Nos primeiros sete saltos, encara-se uma saída a 4.000 pés de altura ao despencar rumo ao chão com um incrível, gelado e vento na cara!

Nesses primeiros saltos, curte-se o voar com o paraquedas aberto que é sensacional. Sai-se portanto, aos 4.000 pés – uns 1.333 metros de altura - que ao olhar para o chão, não dá para distinguir, lá em baixo, se é um ônibus ou uma Kombi na estrada, tamanha distância/altura desse início de voo! São uns oito minutos de deleite e gloriosa sensação de alegre liberdade!  

O silêncio durante esse voo com velame aberto, é um espetáculo! O ruído da aeronave que nos lançou vai sumindo, e a Natureza nos brinda com sons únicos, quase imperceptíveis no nosso dia-a-dia na cidade. Ao navegar, escuta-se o chiado do velame cortando o ar e do solo, ouve-se curiosamente latido e o cantar de galos! Só isso. Momentos inesquecíveis de uma beleza monumental!

A iniciação é cautelosa, segura, lenta que evolui aos poucos. Só depois desses saltos enganchados, é que começam os saltos em QUEDA LIVERE!

A altura da saída aumenta gradualmente com o tempo em queda cada vez maior. É a partir do oitavo salto que o atleta comanda abertura, e o desafio é em cada salto. A evolução que nos leva aos saltos em queda-livre, se dá e se perde o sentido lúdico daquela navegação com paraquedas aberto.

Corre-se os riscos do esporte radical, nos saltos das grandes alturas e seus longos segundos de queda até a desafiante decisão da hora de comandar abertura, que deve ser lá pelos 4.000 pés, rigorosamente controlado pelo altímetro afixado no pulso. Abertura é violenta. Forte choque pela redução da velocidade de queda e então se volta à paz e tranquilidade do voar com velame aberto! 

Esses saltos se dão – dependendo do porte da aeronave – aos dez, quatorze e até dezessete mil pés de altura, com cinquenta a setenta segundos dessa desafiante queda-livre. Isso sim é um absurdo. Não tem como descrever! Para entender, tem que ir lá e saltar!

Tudo isso é realmente perigoso? Não. É mais assustador do que perigoso, em especial quando “se vê de fora”! Os equipamentos de hoje são muito seguros e há dispositivos que até “dormindo” a abertura do velame ocorrerá. Óbvio que o dormindo, é em caso - ainda que raro - de algum desmaio,  por conta de algum choque com outro atleta, aí é o Cypress, dispositivo eletrônico com altímetro que controla a velocidade de queda, que "sente" que não foi  acionada abertura até uns 1.200 pés, ele o faz com segurança e precisão!

Foram muitos saltos das minhas experiências, mais de trezentos. Tive a alegria, em parceria com Álvaro, até de viajar aos EUA, Deland – Flórida, localidade próxima a Orlando, a saltar durante dez dias na Área considerada a Capital Mundial do Paraquedismo. Lá, suas potentes aeronaves com turbo hélice, decolam com mais de vinte atletas a subir até 14.000 pés! É a glória!

Foi apenas em um dia em Sebastian, ao norte de Miami, onde tivemos o glorioso voo a 17.000 pés e creiam-me, quando se está caindo, não há as chatas limitações visuais que se tem em uma janela de avião de carreira! Nesse salto a percepção de Pitágoras de que a terra é redonda, aqui se encerra, a gloriosa visualização é clara: A terra é redonda, sim!

A beleza do Planeta lá de cima é inebriante. Vê-se com incrível clareza o azul do infinito em contraste com o branco das nuvens e o verdejante Planeta com seu Mar também azul! É um encanto só. Foi num único salto aqui nessa altura. Foram setenta segundos até comandar o choque e a barulhenta abertura do paraquedas. Parece pouco tempo para um viver normal, mas voando assim, naquela velocidade, é uma eternidade com registro perpétuo em nossas mentes!

Além do alto custo, são poucas coisas, inclusive o medo, que podem fazer abandonar esse esporte tão dinâmico! Entretanto o mais comum, é de o aluno fazer seu primeiro salto e "se dar por satisfeito", não voltando mais a Área de Saltos... Alguns outros percalços aparecem, mas isso contarei na próxima crônica da semana que vem!

26 comentários:

  1. AO SAIRMOS DA ACFT.- COMEÇAMOS A CONTAR: 1MIL 2MIL,3MIL,4MIL. VELAME...
    É MARAVILHOSO !

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    1. Saltos de baixa altitude a contagem é assim rápida! Aos 10.000 pés tem que ser no altímetro, a comandar lá pelos 4.000. Isso dá um retarde de uns 45 segundos. É bastante tempo para CAIR!!! Obrigado por comentar meu caro Ivan!

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  2. Parabéns FAUSTO. Muita coragem. Aos 73 anos só aplaudir de longe.

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    1. Teu aplauso, já me é suficiente, porque saltar, já me aposentei!!!

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  3. Parabéns Fausto!!! Seu sobrinho teve um parceiro para tal loucura!! Que legal!!
    Deve mesmo ser "emoção sem limite".
    Abração Fausto.

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    1. É Cristian, esse sobrinho me levou à loucura do paraquedismo, mas depois de eu ser iniciado, levei outros dois sobrinhos (Eduardo e André) para essa loucura!!!

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  4. Mais um excelente blog. Parabéns, meu amigo corajoso!

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    1. Muito obrigado pela leitura. |Na próxima, assina para eu saber quem escreveu comentário, por favor! Abraço.

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  5. Parabéns meu amigo fausto, quisera eu ter um tio assim tão radical e corajosso parabéns de novo a vc

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  6. Obrigado por ler e comentar. Na próxima, assina para eu saber quem escreveu...

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  7. Esse meu primo é mto corajoso mesmo. Eu já me dá dor de barriga só de subir numa árvore.... Kkkk
    Abração!

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    1. Tânia por incrível que pareça, tenho medo de altura! Mas junto uma coragem nem sei de onde, para "sair do avião "! Depois, é uma alegria indescritível que vale a pena!!!

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  8. Bem dinâmica tua trajetória no paraquedismo!Meu filho Waldemar não foi tão longe como tu neste esporte !Percy Diefenbach

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    1. É. Eu sei, mas ele fez alguns saltos em queda livre, que é o GRANDE MOMENTO no PQD, que a maioria absoluta, "amarela" e abandonar o esporte...

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  9. Parabéns meu amigo pela coragem! Deve ser realmente muito emocionante e vc descreve com entusiasmo a sua paixão por esse esporte.

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    1. Verdade Kátia, o esporte acaba apaixonando pelo tamanho da dose de adrenalina no sistema. Só tive coragem quando seu nível "empatou" com a dose de medo...

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  10. Parabéns Fausto, excelente narrativa sobre esse radical esporte... abraços.

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    1. Obrigado por ler e comentar. De fato o esporte radical acaba por nos envolver em tamanho grau de emoção, que nos leva à paixão! Vale a pena tal experiência. No seu próximo comentário, não deixe de assinar, para eu saber seu nome, por favor!

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  11. Pois então. Espetacular termos coragem para desafios dessa magnitude e poder sentir a emocionante sensa9ção de voar. Parabéns pela experiência. Abraço

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    1. Obrigado por ler e comentar. De fato o esporte radical acaba por nos envolver em tamanho grau de emoção, que nos leva à paixão! Vale a pena tal experiência. No seu próximo comentário, não deixe de assinar, para eu saber seu nome, por favor!

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  12. Espetacular. Imagino a sensação de saltar mas nunca fiz isso. Talvez a minha imaginação seja muito tímida perto do relatado pelo Fausto.

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  13. Cada vez que leio os comentários dos leitores do blog fico certo que teu espirito aventureiro sempre foi uma marca registrada dos Diefenbach. Ai fico me imaginado, o que seria se tivessemos um Policia da Memória para nos fiscalizar em uma distopia. Como as historias seriam passadas e recordadas pelas novas gerações? Como sempre meu amigo, maravilhosa tua crônica, onde trazes como tu mesmo diz: "A iniciação é cautelosa, segura, lenta que evolui aos poucos. Só depois desses saltos enganchados, é que começam os saltos em QUEDA LIVERE!. "

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    1. Obrigado Dirceo por ler e comentar minha crônica! Verdade, desde os tempos de moleque adolescente, na querida Jaguari, procurei desafios e aventuras que movessem com a produção de adrenalina! Foste companheiro naquela época em tantas que fizemos pelo rio e morros daquela cidade!

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  14. Amigo Fausto, já paguei para saltar e não fui por medo. Não tenho e nunca terei coragem para saltar. Mas gostei da forma que tu começou a saltar.abs

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    1. Não foste o único nem o último, José Nelson. São muitos os que se entusiasmam "ATÉ CERTO PONTO", põe a cabeça no travesseiro e preferem ficar em casa e esquecer "aquilo"!!!

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