quarta-feira, 29 de julho de 2020

13) - O Galo comeu!

Meus queridos Leitores das minhas “Crônicas de um Ridículo”,

Na Crônica de hoje voltarei muitos anos na História da Minha Vida, quando criança. Quinto e último filho, com a “pecha” de mais mimado - e certamente fui – era protegido pela Mãe, uma irmã e os três irmãos de qualquer ameaça, no entanto, deles vinha a maioria das brincadeiras.
“Inticar” comigo era fácil, qualquer gozação eu reagia com pedras e dentadas... Danilo me chamava de “oncinha”, virava uma fera em fração de segundo. Bastava um apelido que eu não gostasse ou não entendesse, já ficava furioso!

Tudo é passado, mas como vale o passado. Recordo nosso Poeta Mário Quintana: - “O passado não reconhece o seu lugar, está sempre presente”! Boas lembranças são como uma bela música, a gente não quer que acabe!



13) O Galo Comeu...         


Eu era criança e meus irmãos mais velhos, já haviam identificado no moleque, um gênio do cão para qualquer tipo de gozação. Um dia, não sei por que razão, disseram que um galo havia comido o meu “Gulin”. Bem, Gulin, era o nome ou apelido de infância daquele apêndice que caracteriza o macho. Este apêndice é o “indivíduo” que têm mais nomes na História da Humanidade! Em alguns livros o chamam de pênis, falo, piu-piu... Chega! Agora todos sabem quem é o Gulin!

Pois o  Flaco, amigo da Família em especial do meu irmão mais velho, o Sérgio, sempre que me via, cantava debochado uma musiquinha cuja letra dizia mais ou menos assim:

- “O galo comeu o Gulin do Fausto...”

Eu surtava, babava de raiva, xingava, atirava pedras, chorava enlouquecido... Socorri-me na mãe, que segundo ela, eu ficava branco e com lábios roxos. Um dia, em minha defesa mamãe bondosamente foi recomendá-lo:

- Flaco, por favor, não repita essa brincadeira com o guri. Ele é muito nervoso. Chora, fica muito brabo. Um dia pode até dar um “troço” nele...

Concordou com a mãe, mas não mudou, até piorou. Era um homem feito com mais de vinte anos, e quando de longe me avistava já vinha com um sorriso gosmento, maldoso, cantarolando “aquilo”!
Se minha mãe estivesse por perto, só assobiava a melodia. Como eu já conhecia a letra, surtava novamente! Pedra, tijolo, pedaço de pau, esterco o que tivesse ao alcance atirava nele enlouquecidamente. A mãe voltou a falar-lhe. Sem nenhum resultado prático. Então ela argumentou comigo, tentando me convencer da possível Paz:

- É apenas uma música, não é o que está pensando...

Era sim! Cabe lembrar agora, que nessa época, lá por 1954, a Cultura Local, estabelecia que o máximo de intimidade que um noivo possuía, com sua noiva, era o de caminhar - de dia é claro - com a mão sobre o ombro da noiva. Abraço, beijo em público, usar o banheiro na casa da noiva, nem pensar. Pois o Flaco tinha uma noiva, a Mary.

Num rasgo de criatividade salpicado com certeira maldade, bolei um plano de resposta como minha vingança letal. Quase letal. Num final de tarde, lá vinham os dois pombinhos caminhando lentamente com a brisa suave de um belo pôr-do-sol, atmosfera romântica e apaixonada que os inspirava, numa Primavera perfumada e florida! Acho que nesse dia especificamente, ele nem pensava em me atormentar. Mas o plano estava montado e eu tinha que executá-lo HOJE! Segui à risca o protocolo daquele dito popular: “Não deixe para depois o que pode fazer agora! ”

Eu estava só, me remoendo pela expectativa do resultado que poderia produzir. Quando o casal estava ha poucos metros de mim, tirei o dedo no nariz e fiquei desafiadoramente olhando-os com muita determinação! Hoje, ele será o meu prato cheio! Bem próximo, ele me olhava com um desprezível sorriso debochado e de uma antipatia colossal, se aproveitando da ocasião e minha disponibilidade, cantou:

- O galo comeu o...

 Sem vacilar, arriei as calças até as canelas e exibi o tal de Gulin:


- Comeu nada. Tá aqui ele hó! O galo comeu foi o teu Gulin né. Me mostra aí vai. Vamos me mostra. Garanto que o teu Gulin ainda é menor que o meu! Volta aqui! Olha aqui o meu Gulin Flacoooo!

Acompanhei-os meio de pernas abertas para manter as calças arriadas por muitos passos, repetindo a “chamada” diversas vezes com voz bem alta para não deixar dúvidas!

Coitado do Flaco! Acho que ele não gostou. Uma melancia madura ficaria pálida se comparada à cor de seu rosto sem sorriso, um rosto sério, olhar grave! Era um “vermelho Ferrari” de chamar atenção! Parecia "estranhamente" que queria me estrangular. Não disse uma só palavra, apenas pigarreou e mudou seu olhar para o céu! Acho que rezava!

Aliás, ficou assim por muitos e muitos anos sem olhar para baixo ou melhor, sem olhar para mim que era baixinho! Mas como disse no início, com o tempo tudo passa e creio firmemente que um dia, não tão próximo, me perdoará! Afinal, já fiz setenta anos e ele, nem sei!!!



Porto Alegre, 30 de julho de 2020.


13 comentários:

  1. Kkkk adorei!! Muito Bom!! Devolveu a gozação com esperteza!!

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  2. Fantástico, belas historias de infância, com certeza o Flaco nunca mais deve ter mexido com ninguém...valeu.abs

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  3. Essa brincadeira era normal dos mais velhos.Mas os guris não aceitavam,e vinha a resposta.Hehe.

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  4. Boa primo! A vingança foi "maligrina" como dizia Chico Anisio...

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  5. Adorei tua história! Kkkk também passei por isso,sou a última de cinco irmãs. Mas bem que a gente gostava de ser os queridinhos,né?

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    1. Não sei como são as "outras posições" da hierarquia familiar, mas acho que é ótimo ser o último filho! Pelo menos o "ranço" dos outros sobre algumas ações dos pais consideradas privilégios, prova isso! Próximo comentário, coloque seu nome, por favor!

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  6. Kkkkkk.... Sua estratégia foi fantástica....
    Mas na verdade, acho que o Galo já havia devorado o Guilin do Flaco...
    Abraço

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  7. Kkkkkk nossa uma boa vingança
    Ainda bem que vc já é crescidinho e sou amiga kkkkkkk

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  8. Fausto! Bem feito pro Flaco! Mereceu! Kkkkkkkkkkkkkk
    Adorei bjos

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