Como
já escrevi, gosto muito de viajar. Cada trecho, cada cidade, cada habitante tem
seu encanto e um rico tesouro de conhecimento para nos ceder. Sempre afirmo que
uma das melhores coisas que fiz durante toda minha vida foi conhecer muitos e
novos lugares e vários deles repetir por muitas vezes.
Uma
cidade visitada hoje, nos reservará novos cantos e encantos para um futuro
retorno. Como diz meu amigo Dirceo Stona, “devemos sempre deixar alguma coisa
para trás, para podermos voltar! ”
14) Arlington só para Heróis...
Em 1995 quando fui a NYC com o Patrô – contei na sexta
crônica dessa viagem o caso do “Deixa que eu Chuto” – quando no final de semana
para aproveitar melhor ainda a ida aos EUA, locamos um carro e fomos a Washington
DC. Minha primeira vez na Capital Americana. Ao chegarmos no sábado meio da
tarde, aconteceu a festejada Primeira Neve daquele Inverno. Em menos de meia
hora, tudo ficou branco e as ruas com difícil trânsito, fizemos um lanche ainda
na rua e nos recolhemos cedo ao hotel para descansar.
O domingo amanheceu espetacular, a nevasca foi generosa.
Tudo alvo, colorido com o contorno branco da neve, sol radiante e muita alegria
em parques, praças e outros lugares públicos. Muita gente na rua em roupas coloridas
e adequadas ao frio fazendo bonecos e trocando arremessos de bolas de neve
numa festiva “Guerra de Inverno”! O Americano festeja a primeira neve de forma
nada comum entre eles, isto é, com muita alegria e comunicabilidade!
Saímos de carro meio sem destino a apreciar o que de
melhor se descortinava para nós. Num dado momento e ao acaso, cruzamos o
Cemitério de Arlington. Para tudo. Vamos aproveitar a oportunidade de conhece-lo!
Estacionamos o carro e adentramos respeitosamente naquele Sereno Campo Santo.
Numa galeria qualquer cruzamos com um casal de
brasileiros, ele uns quarenta e cinco anos de idade, ela bem mais jovem e uma
filha adolescente, pelas suas idades, supomos ser filha só dele, talvez de um "primeiro casamento", pois ainda
tinha um neném de poucos meses no carrinho, esse sim, certamente do casal. Tudo inferência
minha. Não tomamos nenhuma atitude que eles percebessem nossa origem
brasileira. Ficamos em silêncio.
O fato que valeu a pena é que eles discutiam, brigavam
com invejável entusiasmo! Não só o casal? Todos!
Ele percebia que chamavam atenção pelo tom de voz com que “confabulavam”, mas
nem por isso diminuía sua gritaria, parecia se orgulhar de seu poder vocal!
Quase um Tenor! Não era para menos, berros livres e soltos mesmo. Escândalo!
Para continuar curtindo aquela “peleia” fingimos não
entender o idioma e deixamos os quatro que brigassem livremente! Correção: O
neném não brigava, só os três! Mantivemos oculta nossa origem brasileira para
que ficassem bem à vontade. Mantinham se xingando mutuamente sem nenhum pudor,
nenhum limite especialmente ao volume de voz, nem ao vocabulário empregado!
Verdadeiro espetáculo brega! Distanciaram-se de nós, mas a voz do grupo se
manteve em nosso “alcance auditivo” por muitos vários ainda!
Muitas voltas depois, localizamos o Mausoléu da Família
Kennedy, onde repousam os restos mortais de Jakie e do Presidente John F.
Kennedy! Líamos o epitáfio e sinceramente emocionados nos mantivemos num
profundo e respeitoso silêncio!
Subitamente, vi ao meu lado, era “ele” chegando, sozinho. Lia também emocionado, quando repentinamente chega a víbora menor, a filha adolescente, faz
uma pose de “açucareiro” com as duas mãos na sua grossa cintura e em tom de um
Terceiro Sargento da Cavalaria recém promovido vocifera:
- Lendo pai?!?!
Ele, ainda consternado, lágrimas nos olhos sem
olhar para aquela "rica filha", voz embargada :
- Sim filhinha! Coisa linda né?
- Porra pai! Vamos passar o dia todo
dentro de um cemitério lendo plaquinhas? Mas que merda homem! Puta-que-pariu, porra!
Não te aguento mais, caráio!
(*) Palavra nova do vocabulário brasileiro, válida
somente em território americano e se dirigido a uma filha pentelho que nos
enche o saco!
Depois disso se afastou desancando os mais diversos
qualificativos de baixíssimo calão, nenhum sem adequada resposta da “adorável
filha”, é claro. Aliás, em palavrão ela era muito criativa!
Num um terceiro encontro mais tarde – o melhor
de todos - o clima entre eles era pior do que os anteriores. Sempre que isso
acontecia, eu e Patrô nos mantínhamos conversando no nosso inglês médio, para
mantê-los sempre à vontade! E a troca de insultos continuava alucinante, rica, farta!
Foi muito divertido assistir a todo aquele carinhoso imbróglio familiar!
Encerrando a visita ao Cemitério e indo embora, já no
imenso pátio de estacionamento, sem notar passamos por “ele” novamente, mas agora
sozinho. Só nos demos conta que era “ele”, pouco mais
adiante, mas era tarde, ele tinha nos reconhecido pela nossa conversa, nosso idioma e nossa origem brasileira!
adiante, mas era tarde, ele tinha nos reconhecido pela nossa conversa, nosso idioma e nossa origem brasileira!
Ficou paralisado, pasmo, cristalizado! Se deu conta de
que curtimos todo seu escândalo. Ficou ali parado com olhar de indignação, num
misto de vergonha e raiva. Logo a frente pegamos o carro, ainda sob seu
olhar indignado e na sequência fiz questão de passar ao seu lado sem segurar
nossa mais gorda das risadas! Ele ainda parado, chocado.
Baixamos os vidros do carro e o saudamos festivamente
numa manifestação bem brasileira com os braços para fora do carro gesticulando,
gritando:
- Larga aquelas cobras
venenosas, jararacas que não te merecem, víboras desgraçadas, elas não valem
nada, ainda vão te matar, foge conosco vem, manda elas a merda, deixa de ser
bunda mole, venha!
Fomos nos afastando lentamente ovacionando-o às fartas
gargalhadas. Ele permaneceu imóvel, mãos para o alto, indignado, sério,
carrancudo, sem resposta, quase chorando, mas certamente nos dando toda razão! Apreendeu
que mesmo estando longe de casa, uma boa postura, nunca é demais!!!
Muito divertido.hehe.
ResponderExcluirMuito bom, chegar quinta feira e dar muita risada, com as histórias do amigo Fausto!
ResponderExcluirHilário!! É uma delícia ficar na moita, sem demonstrar que é brasileiro no exterior e ouvir os barracos dos outros. Muito Bom!!
ResponderExcluirMuito bom amigo. Abraço
ResponderExcluirMeu amigo muito bom o conselho que destes para este Brasileiro sofredor.
ResponderExcluirAs aventuras vividas pelo Fausto Diefenbach faz parte do cotidiano. Fausto um homem viajado e como disse um amigo acima. "É muito bom chegar quinta-feira e dar uma risada com as histórias do amigo Fausto"
ResponderExcluirSempre muito bom de ler tuas crônicas! Garanto que esse nunca mais fez baixaria no exterior! Deve ter aprendido, kkkkkkkkk
ResponderExcluirHahaha. Grande lição. Hahaha
ResponderExcluirComo diz um amigo em comum: "Pobre alma"!!!!!
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